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Por Peter Singer - Universidade de Princeton 18 anos 2 meses atrás #121

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VEGETARIANISMO - 07/09/2005


Por Peter Singer - Universidade de Princeton

A perspectiva de que devemos evitar comer carne ou peixe tem raízes filosóficas remotas. Nos Upanishades (c. 1000 a.C.), a doutrina da reencarnação levava à abstenção de carne; Buda ensinava a compaixão por todas as criaturas capazes de ter sensações; os monges budistas não podiam matar animais nem comer carne, a menos que soubessem que o animal não havia sido morto por sua causa; o jainismo pregava a ahimsa, ou a não-violência em relação a qualquer criatura viva e, portanto, a não ingestão de carne.

Na tradição ocidental, o Génesis sugere que os primeiros seres humanos eram vegetarianos e que a permissão para comer carne só teria sido dada após o dilúvio. A partir daí, o vegetarianismo encontra pouco apoio nas escrituras judia ou cristã, ou islâmicas. O vegetarianismo filosófico, por sua vez, foi mais forte na Grécia e na Roma antigas; foi defendido por Pitágoras, Empédocles, Plutarco, Plotino, Porfírio e, em algumas passagens, Platão. Os pitagóricos abstinham-se de todo o alimento animal e isto se devia, em parte, à crença de que homens e animais partilham a mesma alma e, ao que parece, por considerarem esta dieta mais saudável. Platão partilhava parcialmente estas duas ideias. O ensaio de Plutarco, Sobre Comer Carne, escrito em fins do século I ou início do século II de nossa era, é um argumento detalhado em defesa do vegetarianismo, apoiando-se nas ideias de justiça e tratamento humano dos animais.

O interesse pelo vegetarianismo ressurgiu no século XIX, devido a preocupações com questões de saúde e tratamento humano dos animais. Entre os pensadores vegetarianos notáveis contam-se o poeta Percy Bysshe Shelley, Henry Salt (que escreveu um livro pioneiro na área, intitulado Direitos dos Animais), e George Bernard Shaw, que afirmou ter usado, em suas peças, as ideias que Salt lhe deu a conhecer. Na Alemanha, Arthur Schopenhauer insistia que, por razões éticas, deveríamos nos tornar vegetarianos, não fosse o facto de o género humano não poder existir sem alimento animal, "no norte"!

A partir dos anos 70, o vegetarianismo ganhou força a partir de três linhas de argumentação: saúde, ecologia e preocupação pelos animais. A primeira baseia-se numa afirmação mais científica que filosófica, e não será discutida aqui. As preocupações ecológicas em relação ao hábito de comer carne surgem da bem documentada ineficiência na criação de animais em larga escala, o que se aplica especialmente à agricultura intensiva, em que o cereal cresce em boa terra e alimenta animais confinados a ambientes fechados ou, no caso do gado, em campos de engorda sobrepovoados. Boa parte do valor nutricional do cereal se perde no processo e esta forma de produção animal consume ainda grandes quantidades de energia. Conseqüentemente, a preocupação pelo problema da fome no mundo, pela preservação da terra e pela conservação de energia fornecem uma base ética para uma dieta vegetariana, ou ao menos uma dieta em que o consumo de carne seja minimizado.

Os argumentos a favor de uma reavaliação do estatuto moral dos animais também têm apoiado o vegetarianismo. Se os animais têm direitos, ou se é apropriado que os seus interesses recebam a mesma consideração que nossos interesses, é fácil ver que há dificuldades em afirmar que estamos autorizados a comer animais não-humanos (mas não, presumivelmente, seres humanos, mesmo se em razão de algum acidente estes se encontrarem em uma condição mental semelhante à dos animais que comemos). Estes argumentos éticos em defesa do vegetarianismo podem baseiar-se na perspectiva de que violamos os direitos dos animais quando os matamos para nos alimentar ou, em fundamentos mais utilitaristas, segundo os quais criar animais para nos servir de alimento causa-lhes mais sofrimento do que o benefício obtido com o consumo de sua carne.








Bibliografia

- Keith Akers, A Vegetarian Sourcebook, 2.a ed. (Denver, 1989).
- Francis Moore Lappé, Diet for a Small Planet, 2.a (Nova Iorque, 1985).
- Tom Regan e Peter Singer (orgs.), Animal Rights and Human Obligations, 2.a ed. (Englewood Cliffs, NJ, 1989).


Texto retirado do livro "Oxford Companion to Philosophy", org. por Ted Honderich (OUP, 1995).



Tradução de Eliana Curado

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