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TÓPICO:
Nutrição cerebral - carne e evolução do homem 17 anos 3 meses atrás #818
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De forma alguma deixar de consumir carne representaria uma atrofia cerebral. O fato de em determinado período de nossa evolução termos passado a consumir carne simplesmente contribuiu para que tivéssemos a necessidade de nos organizar para caçadas (o que criou a necessidade de comunicação entre os indivíduos), fabricar ferramentas (para compensar nossa desvantagem física) e dominar o fogo (para conseguir ingerir a carne). Nem o alimento carne, nem nenhum de seus nutrientes, em si, contribuíram para este aumento cerebral, mas sim as dificuldades que o homem teve de superar para conseguir obtê-la. Atualmente, a forma como obtemos carne, indo ao açougue e comprando, não requer nenhuma habilidade além da que necessitamos despender para comprar legumes ou frutas. Por outro lado desenvolvemos outras atividades que permitem que o cérebro se desenvolva. Por exemplo, quando jogamos futebol precisamos ter uma tática de cooperação dentro do time. Outros jogos de competição e estratégia, a leitura e a conversa (seja lá qual seja o assunto) cuidaram de substituir a cooperação que desenvolvemos durante as caçadas na pré-história. Quando manipulamos ferramentas, como o computador doméstico por exemplo, ou desenvolvemos alguma habilidade artística, isto substitui o papel que o fabrico de ferramentas cumpria em nosso cérebro. A necessidade que o homem das cavernas tinha de consumir carne desencadeou este processo naquele determinado período, mas não mais é necessário uma vez que estes mecanismos foram criados e já substituídos. O consumo de carne hoje é irrelevante para a manutenção de nossos cérebros. abraços Sérgio |
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Re: Nutrição cerebral - carne e evolução do homem 17 anos 3 meses atrás #822
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Oi Alex: Você falou e disse, os herbívoros tem que estar sempre alertas e criar estratégias para escapar da predação, mas não desenvolvem mecanismos de cooperação tão efetivos quanto os animais que caçam em grupo. Não é questão de serem "mais bobinhos", mas sim de não terem a necessidade biológica de desenvolver sistemas complexos de comunicação. Como escreveu um zoólogo: "Os herbivoros não tem necessidade de cooperar. Não são forçados a cercar uma ameixa ou derrotar uma framboeza para comê-las. Eles não precisam discutir sobre a tática necessária para mover-se furtivamente para colher uma maçã ou capturar em armadilha uma noz. Não há necessidade premente de cooperação ou comunicação. Para o carnívoro o desenvolvimento dessas habilidades é vital". Mas é claro que isto é uma generalização. Alguns herbívoros, como os elefantes, gorilas e chimpanzés, por exemplo, formam grupos bem estratificados, com nível de hierarquia mais complexo e isto significa que a comunicação é mais complexa também. Mas o tipo de cooperação que ocorre é bem diferente do que ocorre, por exemplo, em um grupo de leões. abraços Sérgio |
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Re: Nutrição cerebral - carne e evolução do homem 17 anos 3 meses atrás #825
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> Oi Alex: Aí que está. Herbivoria não é uma classificação biológica fixa, taxonômica, como "carnívoros". Ela expressa o hábito alimentar do animal. Chimpanzés são na maior parte do tempo comedores de vegetais, mas eventualmente comem cupim, ovos, macacos cebos ou filhotes de animais terrestres. Acontece que mesmo herbívoros de carteirinha podem eventualmente comer carne. Já foi mostrado que algumas vezes elefantes caçavam antilopes e ungulados e comiam. Hipopótamos as vezes comem carne, inclusive de outros hipopótamos e eu já vi vacas comendo a carne de um coelho que morreu prensado no feno. Não sabemos se estes são eventos que só começaram a acontecer agora ou se estes animais sempre fizeram isto e nós não tinhamos percebido. De qualquer forma, ainda que comendo carne eventualmente, o que quis dizer é que estes são animais que não caçam, e por isso não criam tais estratégias. abraços Sérgio |
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Re: Nutrição cerebral - carne e evolução do homem 17 anos 3 meses atrás #826
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Fiz uma busca no Google sobre este assunto e encontrei esta referência, mas na hora que tentei abrir a página estava fora. Talvez mais tarde...
ksw3.search.mud.yahoo.com/question/index?qid=1006041314135 |
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Re: Nutrição cerebral - carne e evolução do homem 17 anos 2 meses atrás #894
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Prezada Marly: Sim, ainda estou por aqui. Minha viagem é só amanhã. Estou correndo com os preparativos finais. O importante na discussão que vocês trazem é distinguir bem entre duas situações completamente opostas. A primeira é dizer que o cérebro humano precisa de carne e outros ingredientes de origem animal, o que não faz sentido no contexto atual. Pesquisas antigas e recentes demonstram até mesmo que crianças vegetarianas se desenvolvem melhor do que crianças não vegetarianas. Portanto está vencido o argumento de que nosso cérebro precisa de proteínas ou seja lá o que for da carne. Na segunda situação, alega-se que em determinado estágio de nosso processo evolutivo o fato de que passamos a consumir a carne auxiliou o desenvolvimento de nosso cérebro. Isto é verdade, mas não porque a carne fosse mais protéica nem nada disto, mas sim porque o proto-homem necessitou criar mecanismos que possibilitassem a captura de animais suprindo sua deficiência corpórea e falta de habilidade física para caça. Para entendermos isto temos de entender o contexto em que se vivia. Os caçadores-coletores humanos modernos que vivem em ambientes semi-áridos nos dão uma pequena idéia do que nossos antepassados tinham de passar. A subsistência dos hominídeos que viviam na África entre 5 e 2 milhões de anos atrás dependia do constante deslocamento, por mais de 10 km por dia em busca de alimentos vegetais cada vez mais escassos. Portanto, era natural que eles dessem preferência por obter alimentos mais densos e com nutrientes mais concentrados - carnes e ovos, por exemplo. Ainda que o esforço para obtê-los fosse maior, os benefícios (o retorno) era muito maior. Para obter a carne eles precisariam correr mais do que a caça ou desenvolver dentes e garras poderosos como as dos leões, o que levaria milhões de anos. O que ocorreu é que o homem optou por um caminho evolutivo diferente, compensando a ausência de determinadas estruturas corpóreas por ferramentas que faziam estas vezes. A falta de velocidade de corrida foi substituída pelo trabalho em grupo, pela técnica de emboscada, etc. Isto exigiu o desenvolvimento de um padrão de linguagem que possibilitasse a comunicação. Uma vez abatida a caça, o homem precisava tornar aquele animal um alimento. Precisava criar ferramentas para separar o couro, destrinchar a carne e quebrar os ossos para obter tutano. Precisava dominar o fogo para tornar a carne palatável. Tudo isto (o fábrico de ferramentas, o domínio do fogo e o desenvolvimento da linguagem) levaram ao crescimento cerebral. Este crescimento provavelmente não teria acontecido se o homem tivesse continuado a consumir vegetais, porque os vegetais podiam ser consumidos crus, não era necessário desenvolver um sistema de comunicação complexo para coletar vegetais e nem era necessário fabricar ferramentas para obtê-los. O cérebro humano cresceu às custas de energia. Esta energia precisou ser deslocada de outros órgãos do corpo. O órgão que continha mais energia acumulada e que não fazia uso de toda ela eram os intestinos. Entre o intestino delgado e o grosso havia uma estrutura chamada ceco, que ainda existe nos herbívoros não ruminantes (nos seres humanos ainda se encontra vestígio do ceco, que é o apêndice vermiforme). Esta câmara de fermentação permitia que nossos antepassados consumissem matéria grosseira e obtivessem daí sua energia. Como os hábitos alimentares estavam mudando (o homem estava consumindo cada vez mais alimentos hipercalóricos) e o cérebro demandava agora uma maior quantidade de energia, tivemos gradativamente uma atrofia do ceco e um aumento cerebral. Isto não quer dizer que as proteínas da carne nos tornaram mais inteligentes, mas que o fato de que em determinado momento buscamos pelas proteínas da carne, desenvolvemos habilidades que resultaram em nossa inteligência. E o fato de que a carne era um alimento mais calórico possibilitou sustentar os requerimentos energéticos de nosso cérebro (lembremos que obter alimentos de origem vegetal, então, dependia de longas caminhadas). Com o advento da agricultura, que trouxe consigo a segurança alimentar (a garantia de que ele conseguirá comer todos os dias) o homem continuou expandindo seu cérebro, desta vez para entender o ciclo das estações, para selecionar as espécies vegetais mais atraentes para cultivo, para fabricar ferramentas agrícolas e criar religiões que forneciam explicações sobre porque morremos, para onde vamos e porque que as vezes acontecem catástrofes. A religião deu origem às artes. Os agricultores eram praticamente vegetarianos e não por isso menos inteligentes do que os caçadores coletores, tudo era uma questão de obter calorias suficientes para sustentar aquele cérebro sedento de energia. beijos. Sérgio. |
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