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Fidelidade e traição entre cães e seres humanos - Página 2

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[continuação]

india_e_animalPara nós, brasileiros, não são necessárias longas explicações sobre o que significa ter ou levar uma vida de cão. Aos menos a maioria certamente sabe de que se trata. Segundo a autora, “O cão pode ser o melhor amigo do homem, mas nossa língua não demonstra que o inverso seja verdade”, e isso porque, segundo ela, com muito mais frequência os termos relativos a cães têm conotação negativa, depreciativa ou humilhante.

A expressão “uma vida de cão” muito provavelmente surgiu a partir da observação direta desses animais, ou melhor, foi criada de maneira espontânea, refletindo o que os humanos impingiam a esses animais. Ao abandoná-los, persegui-los e torná-los objeto de violência ou de puro interesse, estavam, de muitas maneiras, reproduzindo o que faziam com membros de sua própria espécie. Mas, no caso dos cães, o grau de sadismo, frieza e indiferença foi, historicamente, não apenas maior, mas, eventualmente, ainda mais requintado. A bibliografia que registra a história dessas relações – como por exemplo os livros de Thurston e Ammer – é reveladora e nos faz pensar tanto na origem quanto nas implicações da expressão “uma vida de cão”. Além disso, questiona nossa postura nesse longo processo de relações com os outros animais.

O domínio da espécie humana sobre os canídeos também começou na pré-história. Domesticados, de animais de companhia e convivência, os lobos muitas vezes se transformaram, principalmente durante os períodos de grande fome, em fonte de alimento. À medida que as experiências do homem foram se tornando mais complexas suas relações com animais, particularmente com os cães, também passaram a formas cada vez mais intrincadas e paradoxais. No Egito Antigo, por exemplo, cães eram considerados sagrados e serviam de guardiães para monarcas. Atingiram respeito tão elevado que a cidade de Hardai ficou conhecida como “a cidade dos cães”. Estavam por todas as partes, sob a institucionalização e popularização do culto de Anúbis, deus da morte e dos moribundos, com corpo de homem e cabeça de cão.

Fonte: www2.uol.com.br/sciam/reportagens/fidelidade_e_traicao_entre_caes_e_seres_humanos.html

Nelson Aprobato Filho é doutor em história pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo com a tese O couro e o aço. Sob a mira do moderno: a “aventura” dos animais pelos “jardins” da Pauliceia, final do século XIX / início do XX, defendida em 2007. Autor do livro Kaleidosfone
– As novas camadas sonoras da cidade de São Paulo, fins do século XIX – início do XX publicado pela Edusp/ Fapesp em 2008, trabalho originalmente defendido como dissertação de mestrado. Atualmente é teaching assistant e program assistant do Department of Romance
Languages and Literatures da Harvard University, EUA.
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