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Fidelidade e traição entre cães e seres humanos - Página 5

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[continuação]

idade_media_caesIdentificados com a Peste
Na Idade Média, os cães foram estigmatizados e associados à catástrofe da Peste Negra: fugia-se deles como da própria doença. Na conquista da América foram treinados para devorar populações indígenas: as sessões conhecidas como “doggings” eram verdadeiras carnificinas. A caça, desde que se transformou em esporte, principalmente da elite, nunca dispensou os cães e essa prática foi sistematicamente uma forma de demonstrar status e eficácia. Desde o século 17, cães foram empregados na tração de pequenas carroças e na movimentação incessante de moinhos e de outros pesados equipamentos domésticos. Eram a opção mais barata, comparada aos cavalos e muares. Durante as duas grandes guerras mundiais, e também nos conflitos do Vietnã e da Coreia, milhares de cães foram arrebanhados para “servir” nas frentes de luta: terminados os conflitos, os poucos que sobreviveram eram vistos como equipamento bélico usado e, assim, abandonados onde quer que estivessem. Pouquíssimos foram devolvidos a seus antigos donos.

No século 19, acentuaram-se as competições de cães de raça: muitas delas foram tão acirradas que era comum cães adversários serem envenenados ou terem a pelagem simplesmente destruída. A partir de 1870, com a revolução científico-tecnológica, cães se transformaram, entre inúmeras outras coisas, em cobaias exemplares. Hoje é difícil saber ao certo quantos são,
diariamente, usados nos milhares de laboratórios de todo o mundo.

Foi só no século 19, na Inglaterra, que começaram os primeiros movimentos mais efetivos em defesa dos animais. Em 1830, seis anos após sua fundação, a mais antiga organização do gênero, a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, iniciava no Parlamento Britânico uma campanha para banir o uso de cães como animais de tração de veículos. Em 1839, apesar dos protestos de criadores e comerciantes, a Inglaterra seria também o primeiro país a outorgar uma lei inicialmente proibindo essa prática em Londres e, em 1855, no país como um todo. A partir daí, os Estados Unidos e diversos países europeus seguiram o exemplo britânico e foram criando suas próprias organizações e leis. Essas ideias chegaram tardiamente ao Brasil, mais especificamente à cidade de São Paulo. Aqui, apenas em 1895 foi fundada, na cidade de São Paulo, a União Internacional Protetora dos Animais (UIPA). Não deixa de ser sintomático o fato de São Paulo sediar a primeira organização de proteção animal no Brasil e de, nos primeiros anos, as ações dessa organização ficarem restritas quase exclusivamente a cães.

Até a primeira metade do século 19, a cidade continuava praticamente a mesma desde sua fundação.Com população aproximada de 20 mil pessoas, abrigava por volta de 4 mil prédios e fisicamente pouco avançara para além dos limites dos rios Tietê e Tamanduateí. A partir de 1870, com o desenvolvimento da cafeicultura, que estimulou o ferroviarismo, chegaram as indústrias, refletindo, entre outras situações, muitas das descobertas da revolução científico-tecnológica iniciada na Europa e Estados Unidos. Em curto espaço de tempo, a cidade transformou-se em um dos principais polos de atenção nacional e internacional.

Fonte: www2.uol.com.br/sciam/reportagens/fidelidade_e_traicao_entre_caes_e_seres_humanos.html

Nelson Aprobato Filho é doutor em história pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo com a tese O couro e o aço. Sob a mira do moderno: a “aventura” dos animais pelos “jardins” da Pauliceia, final do século XIX / início do XX, defendida em 2007. Autor do livro Kaleidosfone
– As novas camadas sonoras da cidade de São Paulo, fins do século XIX – início do XX publicado pela Edusp/ Fapesp em 2008, trabalho originalmente defendido como dissertação de mestrado. Atualmente é teaching assistant e program assistant do Department of Romance
Languages and Literatures da Harvard University, EUA.
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