Mudanças em vista?
Se a realidade é ruim, os defensores dos animais estão batalhando para mudar isso. Recentemente, bons exemplos estão acontecendo nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Para incentivar a Posse Responsável, evitar maus tratos, superpopulação e também a transmissão de doenças, essas duas grandes cidades conseguiram fazer com que, tanto cães como gatos, sejam vacinados, castrados e recebam chip de identificação antes de serem adotados. O objetivo é conseguir controlar as vacinas que os animais recebem e também responsabilizar os donos por eventuais maus-tratos e abandono.
Além disso, em São Paulo, nenhum animal saudável pode ser sacrificado desde o ano passado por conta de uma lei estadual, de autoria do deputado Feliciano Filho (Partido Verde). Antes dessas novas iniciativas, os Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) costumavam limitar-se ao encaminhamento desses animais para adoção ou sacrifício.
Se na sua cidade essas iniciativas ainda não foram implementadas, você também pode dar o exemplo: só adotar se puder mesmo cuidar do animal, castrar seu bichinho adotado, freqüentar as campanhas de vacinação e não deixar de denunciar maus-tratos. São várias iniciativas que podem melhorar a situação dos cães no Brasil. Porque não basta adorar cães, é preciso participar, cuidando deles com muito carinho.
Com base na quantidade de cachorros que estão espalhados por nosso território (cerca de 50 milhões), poderíamos dizer que o Brasil é um país de pessoas que adoram cães, certo? Não exatamente. Ou seja, há sim muita gente que ama cachorros e cuida deles como se fossem bebês, mas também existe um bocado de gente que os destrata e os abandona, como se eles fossem um brinquedo usado. Neste breve relatório sobre a situação dos animais no Brasil, alguns números e comportamentos mostram que a situação dos melhores amigos dos brasileiros carece de mais cuidado.
O Brasil tem a segunda maior população canina do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (onde vivem 60 milhões de cachorros). Por aqui, estima-se que haja 31 milhões de cães com dono, ou domiciliados - segundo dados da Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação) -, mais 20 milhões que vivem nas ruas (estimativa com base em estatísticas da Organização Mundial de Saúde). Embora esses dados denotem a popularidade dos cães no país - uma em cada sete pessoas possui um cachorro -, isso não significa que seus direitos e necessidades sejam garantidos.
A falta de cuidados com os bichos reflete-se na baixa expectativa de vida dos cachorros, estimada em apenas 3 anos. Embora um cão possa viver até os 18 anos, nos Estados Unidos e Suécia a expectativa de vida deles é de 10 anos e no Japão chega a 8,3 anos. De acordo com pesquisadores da USP, Metodista, Unip e Unicsul, não só a expectativa de vida dos cães é muito baixa, como também as causas de morte são boa parte das vezes relacionadas a falta de informação, dificuldades econômicas e negligência por parte dos donos.
Ao passo que há cada vez mais serviços voltados para o bem-estar dos cãezinhos de raça e com pedigree, os chamados pets, a procriação indiscriminada dos cães de rua ocorre de modo desenfreado - e por culpa dos humanos. Muita gente acaba adquirindo um filhote sem pensar que, quando ele crescer, terá necessidade de comida, água, higiene e atenção. Quando alguém abdica dessa responsabilidade, o animal normalmente é abandonado à própria sorte, longe de um lar. Também são corriqueiros casos em que cadelas emprenham, têm filhotes em casa e, sem saber o que fazer com os pequenos bichinhos, os donos os colocam em caixas, largando-os nas praças. A partir daí, muitos destes bichos sobrevivem em condições precárias perambulando pelas ruas ou simplesmente morrem. O que mais mata os cachorros são as doenças infecciosas (35%), como cinomose e parvovirose, que poderiam ser facilmente evitadas com vacinas. As neoplasias, ou tumores, que costumam encabeçar essa li sta em outros países, aqui caem para o segundo lugar.
Este quadro indica dois fatores importantes sobre a situação dos cães no país. Um deles é a pouca eficácia dos programas de vacinação e controle de natalidade. "Essas doenças são como aquelas que nós pegamos na infância: comuns e facilmente evitadas com vacinas. No entanto, esse alto número mostra que não estão sendo tomadas as medidas necessárias", afirma o professor da Faculdade de Veterinária da USP, Enrico Ortolani.
Outro indício é que muitos dos donos de cães não se responsabilizam pelo bem-estar do animal. Embora não praticar a 'Posse Responsável' - ou seja, assegurar os direitos do animal, como integridade física, cuidados médicos e alimentação - seja considerado crime ambiental, a consciência dessas obrigações ainda é pouco disseminada. O maior exemplo disso é o alto índice de abandono - só a Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis (Apasfa) recebe pelo menos 50 denúncias por dia. E para os cães que vivem nas ruas, o cenário é ainda pior. Embora os animais sem dono não tenham sido incluídos no estudo sobre expectativa de vida e causas de morte, sabe-se que são bem mais suscetíveis a esses perigos.
Isabel Malzoni, especial para o Yahoo! Brasil
Fonte: Yahoo Notícias
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