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Dicas essenciais para novos ativistas veganos

Autor: Lucas Alvarenga

Ao adotar o veganismo como estilo de vida, tomamos um posicionamento ético fundamental para evitar colaborar, dentro do possível, com os maiores causadores de sofrimento do planeta. Mas isso não é tudo que podemos fazer. Através do ativismo vegano, nós podemos também começar a combater ativamente o sofrimento animal e potencialmente deixar um legado positivo e de alto impacto no mundo.

O primeiro passo para se tornar ativista é ter vontade. Mas, mais importante do que simplesmente se chamar de ativista, é importante ter sempre em mente o verdadeiro propósito de um ativista vegano: Ajudar a acabar com a exploração animal.

Tornar-se vegano e simplesmente intitular-se ativista não necessariamente traz um impacto significativo para os animais. O que verdadeiramente importa para os animais é o que trazemos de resultados práticos e efetivos para eles. Então, acima de qualquer nomenclatura ou título, o que mais devemos ter em mente é como potencializar nossas ações que podem trazer benefícios diretos para a causa e para os animais.



A compreensão das diferenças básicas entre as abordagens idealistas e as abordagens pragmáticas é importante para guiar o tipo de ativismo que queremos fazer. Em alguns casos, ficarmos presos ao nosso discurso ideológico ideal não trará os maiores benefícios para os animais.

Um caso prático disso é que, se formos pedir hoje que as escolas públicas brasileiras eliminem todos os ingredientes de origem animal, nós certamente ouviríamos um não. Em contrapartida, o programa Alimentação Consciente Brasil, da Mercy For Animals, vem pedindo por uma redução de no mínimo 20% do consumo de produtos de origem animal em escolas municipais e estaduais. O resultado é que muitos municípios e governos estaduais vêm aceitando a proposta do programa e, a partir de 2018, mais de 25 milhões de refeições veganas serão servidas por ano. Isso diminui a demanda de produtos de origem animal e deixa de demandar que mais de 500 mil animais sejam explorados e abatidos para alimentação. Um outro exemplo é o programa Segunda Sem Carne, da Sociedade Vegetariana Brasileira, que apenas no estado de São Paulo, ajuda a servir 47 milhões de refeições veganas por ano. Esses são apenas alguns exemplo de que muitas vezes poderemos salvar* a vida de muito mais animais com estratégias diversas do que nos limitando exclusivamente ao discurso da importância moral do veganismo.

Bom, todos nós temos tempo e recursos limitados. Como ativistas, a forma como iremos utilizá-los pode significar impactar a vida de algumas dezenas ou a vida de centenas de milhões de animais. Para ajudar a potencializar ao máximo os recursos e o tempo de cada novo ativista no Brasil, abaixo estão algumas dicas essenciais:

  • Buscar entender sobre o cenário de exploração animal no Brasil e no mundo
    Se pretendemos atuar em uma causa, é importante entendermos a situação dela. A compreensão do cenário de exploração animal é importante para termos dados e podermos priorizar nossas ações.
  • Focar no que pode trazer o maior impacto para a maior quantidade de animais em cada momento
    Existem centenas de causas e pautas importantes no longo trajeto que temos até o fim da exploração animal. Priorizar aquelas que podem trazer o maior impacto pode significar encurtar significativamente o tempo para chegarmos onde queremos.
    Os tipos de impactos que podemos ter hoje podem significar: 
    1) Menos animais sendo explorados e abatidos. A redução no consumo geral de produtos de origem animal em larga escala provocada por uma mudança de hábitos alimentares a partir do veganismo ou até mesmo da redução de produtos de origem animal. 
    2) Avanços pontuais e redução significativa do sofrimento de um grande número de animais (muitas vezes de milhões ou bilhões de animais). A proibição de práticas que não acabam ou reduzem diretamente o consumo, mas impactam a vida de muitos animais, são passos (considerados por muitos ativistas) como fundamentais no movimento pelos Direitos Animais rumo ao fim da exploração animal. Alguns exemplos são a proibição da exportação de animais vivos para abate, a proibição das gaiolas em bateria e das celas de gestação, a proibição de testes em animais para um fim específico ou da exploração de animais em um tipo específico de entretenimento, etc. A proibição dessas e de outras práticas também são conhecidas como “melhorias imediatas” ou “redução de danos”. Você pode concentrar seu ativismo em apenas um ou em ambos os pontos citados acima. Às vezes o custo benefício para promover grandes melhorias imediatas pode ser melhor do que para promover o veganismo. A promoção de melhorias imediatas, muitas vezes, pode até mesmo salvar* a vida de um maior número de animais devido ao aumento de custos da operação das granjas e fazendas industriais e/ou devido às repercussões de mídia, que acabam servindo como agente de educação em massa pelos direitos animais.
  • Pensar no custo benefício 
    Em cima do que foi analisado na questão acima, é importante avaliar também o custo, seja financeiro, seja do nosso tempo. Analisar os custo benefício das nossas ações irá potencializar os nossos resultados.
    Um exemplo básico para comparação é:
    1) Gastar duas horas para escrever um post que vai ser visualizado nas mídias sociais por 150 pessoas, a maioria delas que provavelmente já conhecem a mensagem;
    2) Gastar duas horas distribuindo materiais gratuitos para 1.000 pessoas, a maioria delas que ainda não conhece muito sobre vegetarianismo. 
    As duas ações, com basicamente o mesmo recurso de tempo, podem ter impactos diretos para os animais bastante diferentes.
  • Avaliar ações paliativas e ações na raiz dos problemas
    No ativismo vegano, existem ações paliativas e existem ações que atuam na raiz dos problemas.
    O resgate de animais ‘‘ditos de fazenda’’, por exemplo, é importante por causa da vida daqueles indivíduos, e isso tem muito mérito. Entretanto, esses resgates não reduzem a demanda e nem afetam a produção da indústria de alimentos. No lugar daqueles animais resgatados, outros serão criados para atender à demanda do consumidor por produtos de origem animal.
    A atuação na raiz do problema geralmente ocorre quando atuamos na educação, no âmbito legislativo, com políticas corporativas, na oferta de novos produtos que não dependem de exploração animal e outros.
    Uma boa combinação de ações paliativas com ações na raiz do problema é quando um boi, por exemplo, é resgatado e a história dele é contada de forma comovente, se outras pessoas reduzirem o consumo de produtos de origem animal ou se tornarem veganas, isso estará atuando positivamente a raiz do problema.
  • Promover a união
    ONGs, grupos e ativistas veganos independentes sempre terão divergências estratégicas e de abordagens, mas todos buscam o fim da exploração animal.
    A união de forças é uma das principais chaves para o fortalecimento do movimento que, infelizmente, ainda é relativamente muito pequeno. Apesar de estarmos crescendo, as ONGs ainda são infinitamente menores que as poderosas indústrias que promovem a exploração animal. Devemos sempre unir forças nas frentes de ações que temos em comum.
  • Sempre evitar julgamentos morais. 
    Julgamentos têm um enorme potencial de afastar pessoas ao invés de atraí-las ou inspirá-las. Isso pode ter efeito contrário ao que você deseja.
    Quando julgamos outras pessoas, geralmente elas se colocam em uma posição de opostas e se tornam muito mais fechadas ao diálogo. Nas piores hipóteses, essas pessoas acabam criando verdadeira aversão ao que estamos tentando promover, justamente pela forma como as julgamos.
  • Se colocar no lugar do outro. Para cada público sempre haverá uma mensagem diferente. 
    É muito importante lembrarmos que poucos são os veganos que já nasceram veganos. É fundamental termos isso em mente e tentarmos nos colocar na posição dessas pessoas para buscar saber a melhor abordagem e as melhores informações a serem passadas. É igualmente importante também entender que todos são diferentes e cada um teve sua educação, cultura familiar e histórico de vida. Portanto, nem sempre a abordagem que funcionou com um será a que vai funcionar com outros. Para algumas pessoas, eu acredito que nenhuma abordagem funcionará. Para elas, algumas ONGs planejam outras soluções que serão levantadas em outros posts no Veganismo Estratégico.
  • Nunca criar barreiras. Veganismo não é um clube.
    É importante não cair na armadilha de se colocar como oposição às normas culturais da sociedade. Não queremos criar barreiras, mas criar um ambiente onde cada vez mais pessoas irão querer fazer parte.
  • Ser inspirador(a) e agregador(a)
    Nós queremos sempre agregar, nunca afastar. 
    As pessoas costumam se inspirar em coisas, modelos ou agentes positivos. Cuidar da nossa saúde, da nossa apresentação pessoal e de bons exemplos nos tornam muito mais propensos a inspirar e fazer com que novas pessoas queiram e se sintam confiantes em adotar o nosso estilo de vida. 
    Por outro lado, se demonstrarmos raiva, intolerância e negativismo nós aumentamos as chances das pessoas quererem se afastar do estilo de vida que queremos promover.
  • Por fim, identificar sua(s) forma(s) de atuação favorita(s)
    Muita gente acha que, para ser um ativista, é preciso ir para as ruas segurar um cartaz e gritar bem alto palavras de ordem. Isso não é verdade. Existem diversas formas eficientes de fazer ativismo. Aqui estão algumas delas:

    Ativismo cotidiano. Você pode usar aproveitar as coisas que você já faz no dia a dia para aproveitar e ser a voz dos animais. Você pode colar um adesivo no seu carro, usar mais camisetas com temas veganos, cozinhar pratos veganos para a família ou para amigos, entre outros. São inúmeras as formas de fazer ativismo em nossas atividades cotidianas.

    Mídias Sociais. Utilizar as mídias sociais para passar sua mensagem pelos animais. Se você achar isso pouco, pense em criar uma nova página ou produzir conteúdo especializado em um novo canal. Caso você não queira criar conteúdo próprio, você pode compartilhar conteúdos de ONGs ou de influenciadores digitais.

    Ações direta nas ruas / Manifestações presenciais. Algumas ONGs no Brasil fazem ações nas ruas. Você pode se juntar a elas ou começar o seu próprio grupo.

    Distribuição de materiais gratuitos. Algumas ONGs também fornecem conteúdo educativo gratuito para distribuição em diversas cidades no Brasil. Você pode se juntar a elas ou criar o seu próprio material.

    Pesquisa. No Brasil, ainda temos poucas pesquisas e dados que podem auxiliar nas diretrizes dos nossos trabalhos. Você pode ajudar alguma ONG na realização de novas pesquisas ou com coleta de dados.

    Porta-voz. Se você gosta de aparecer publicamente e de falar e motivar pessoas, você pode buscar ser um(a) porta-voz em atos, ações, manifestações e/ou até na internet. Grupos e ONGs precisam de pessoas bem articuladas para passar bem a mensagem para os grandes públicos. 

    Empreendedorismo. Ajudar a promover a oferta de produtos veganos pode ser uma das formas mais eficientes de promover o veganismo e de facilitar a transição de hábitos de milhares ou milhões de pessoas.

    Empreendedorismo com Eventos.
     O surgimento de eventos veganos nas grandes cidades ou de departamentos veganos em grandes eventos é de altíssimo valor. Isso dá mais visibilidade para a causa, dá mais oportunidade de crescimento para pequenos empreendedores veganos e aumenta a acessibilidade de produtos cruelty-free disponíveis.

Você pode fazer ativismo individualmente, dentro de um grupo ou de uma ONG. É importante você entender onde você se sente mais confortável e útil. Existem diversas ONGs no país com belíssimos programas de voluntariado sendo desenvolvidos a nível nacional com oportunidades em diversas frentes de atuação.

Caso você também se sinta mais confortável e confiante iniciando um novo trabalho, siga em frente! Trabalhe com o que você tiver mais afinidade e busque sempre agregar forças positivas para todo o movimento. 

Considerações pessoais finais importantes:

  1. Não pense pequeno e não pense em status. Independente do seu tempo de ativismo ou dos seus contatos dentro do movimento, não se deixe limitar por isso. Se você quiser e tiver foco e determinação, você pode ocupar posições importantes dentro do movimento vegano e promover um alto impacto para os animais rumo à libertação animal. Independente se sua atuação for discreta, na frente das câmeras, não importa. O movimento vegano precisa de ativistas determinados e apaixonados pela causa e também inteligentes e focados em resultados.
  2. Trabalhe sua inteligência emocional constantemente. Em qualquer ativismo, há sempre grupos que sempre irão criticar, independente de qual seja sua opinião ou do que você faça. Quanto mais você fizer e mais visibilidade você tiver, mais irão gastar tempo para tentar te rebaixar. Isso acontece em todas as causas. É importante ter serenidade e resiliência. Nunca gastar seu tempo alimentando críticas desconstrutivas e manter-se sempre focado no que realmente importa para a sua causa: os animais. E lembre-se, estamos aqui para correr uma maratona. A exploração animal não irá acabar nos próximos anos. Quanto mais serenidade e equilíbrio emocional tivermos, mais longe conseguiremos ir nessa corrida e mais seres serão beneficiados. Ter isso em mente é fundamental para que o trabalho não resulte em desgastes mentais e físicos excessivos. Saúde mental e inteligência emocional são fundamentais para um trabalho eficiente que levará décadas de dedicação.

Fonte: www.veganismoestrategico.com.br

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