No Coração do Himalaia, Começa uma Revolução Vegana: Mosteiro Pema Yoedling, no Butão, Torna-se um Farol de Compaixão e Sustentabilidade

Com máquinas industriais de tofu zumbindo nas montanhas e antigas preces ecoando pelos corredores, um mosteiro está mostrando ao mundo que compaixão é mais do que um sermão — é um modo de viver.

📍 Gelephu, Butão | Reportagem Especial |   Versão em Podcast disponível

Pema Yoedling MonasteryAninhado nas tranquilas encostas da região sul do Butão, o Mosteiro Pema Yoedling tem orquestrado silenciosamente um dos atos mais radicais de renovação espiritual e ambiental da história budista moderna. Num movimento que conecta tradições milenares com urgências globais contemporâneas, essa serena comunidade monástica adotou um estilo de vida totalmente vegano — e, ao fazê-lo, pode ter redesenhado o mapa espiritual para instituições budistas ao redor do mundo.

Máquina de leite de sojaCom apoio de aliados internacionais — especialmente da VegVoyages Foundation, Animal Climate and Health Save Foundation e Vegan Travel Asia — o mosteiro, que também administra o Jangsa Animal Saving Trust (ONG de proteção animal fundada em 2000), converteu sua cozinha inteiramente para a culinária vegetal. Além disso, instalou um conjunto completo de máquinas para a produção de tofu. De leite de soja a tofu defumado e tempeh, esses alimentos agora não são apenas sustento — são ferramentas sagradas de transformação.

Da Compaixão à Cozinha:

Uma Revolução Gentil Tem Início

A jornada não começou com mandatos ou ordens, mas sim com uma pergunta. O Lama Kunzang Dorjee Rinpoche, líder espiritual do Pema Yoedling, propôs uma reflexão: como os monges poderiam viver de forma mais coerente com o princípio budista de ahimsa, ou não-violência?

Essa indagação encontrou eco em aliados como Zac Lovas, da VegVoyages, a ativista vegana Aprajita Ashish e o especialista em saúde pública Dr. Harsha Atmakuri. A resposta veio em forma de ação concreta: um Desafio Vegano de 30 Dias, com orientações nutricionais, reformulação de cardápios, demonstrações culinárias e suporte emocional e educacional.

Os resultados foram impressionantes. Níveis de glicose caíram, o colesterol melhorou, e a energia voltou aos corpos cansados. Mas o mais marcante foi a transformação no espírito coletivo — uma compaixão mais profunda e vivida, perceptível em cada refeição e em cada gesto.

A Indústria Sagrada da Misericórdia:

Um Novo Tipo de Produção Espiritual

A máquina de fazer tofu começa a ser montada

À medida que os monges abraçaram a nova dieta, a liderança viu ali uma oportunidade de criar um sistema sustentável. Em parceria com a VegVoyages, o mosteiro implantou a primeira unidade de produção de alimentos veganos do Butão, adaptada à vida monástica.

Leite de SojaAs máquinas, discretas, operam dentro dos muros do mosteiro e produzem tofu, leite de soja, tofu defumado e tempeh — alimentos ricos em proteína, de baixo custo e alinhados com os ideais éticos budistas. Treinados por especialistas visitantes, os monges agora não só cozinham com esses produtos, mas também os fabricam e embalam para uso fora da comunidade.

O impacto já começa a se expandir. Hotéis locais estão promovendo “Dias Veganos”. Escolas próximas discutem comprar tofu do mosteiro. E, talvez o mais inspirador, outros mosteiros — motivados pelo exemplo do Pema Yoedling — estão buscando realizar transformações semelhantes.

Tradição e Futuro:

Como a Sabedoria Antiga Alimenta Mudanças Modernas

Esta história não é apenas sobre comida. É sobre fidelidade — aos valores espirituais, à saúde do planeta e à prática evolutiva de viver com consciência. Num momento em que instituições religiosas enfrentam críticas sobre seus impactos ambientais, o Pema Yoedling oferece uma narrativa alternativa e esperançosa: a de que a fé pode liderar, e não apenas seguir, a luta pela sustentabilidade.

Tofu FrescoVale lembrar que o veganismo não é novo no pensamento budista. Conceitos como karuna (compaixão) e ahimsa (não-violência) são pilares éticos há milênios. O que é revolucionário aqui é a institucionalização desses valores na prática diária — elevando o veganismo de uma escolha pessoal a um princípio coletivo.

Lama Kunzang Dorjee Rinpoche resumiu essa mudança com humildade:
“Cuidar do planeta é cuidar do dharma. O que comemos não é apenas sobre saúde ou sabor — é sobre integridade. Essa é a nossa oferenda.”

Um Convite à Ação:

Voluntários para um Movimento em Expansão

Com o movimento vegano monástico se expandindo do Butão para a Índia — onde outro mosteiro da mesma linhagem budista se prepara para sua própria transição — o chamado agora é global: voluntários são bem-vindos.

Em uma mensagem recente para Marly Winckler, presidente da União Vegetariana Internacional (IVU), Zac Lovas fez um convite aberto:

“Se você conhece alguém que queira se voluntariar, podemos cobrir os custos após a chegada no Butão. Seja para compartilhar receitas, oferecer orientações nutricionais ou simplesmente ajudar — tudo é bem-vindo. Estamos construindo um modelo para o mundo seguir, e precisamos de corações e mentes engajados.”

Tofu com ervasA VegVoyages Foundation está em busca de pessoas apaixonadas — chefs, nutricionistas, escritores, profissionais da saúde, educadores, cientistas de alimentos e defensores da compaixão — para contribuir com esse laboratório vivo de transformação ética.

Próximos passos já estão em andamento: um projeto de pesquisa para criação de queijos veganos liderado pela renomada chef Miyoko Schinner, colaborações com Seth Tibbott (fundador da Tofurky) e consultoria de cientistas e médicos de renome.

🔗 Para saber mais ou se envolver:  https://vegantravelasia.com/foundation/

Conclusão:

Um Futuro Enraizado na Reverência

O Desafio Vegano do Mosteiro Pema Yoedling não é apenas um projeto piloto bem-sucedido — é uma declaração: de que o futuro da fé pode ser verde, que a compaixão pode ser institucionalizada, e que tradições ancestrais podem guiar as mudanças mais modernas.

Monje provando o leite de soja recém saído da máquinaÀ medida que o aroma do leite de soja sobe pelas colinas sagradas do Butão, fica a pergunta:
Se um pequeno mosteiro conseguiu isso, o que as grandes instituições religiosas do mundo poderiam realizar?

O desafio foi lançado — e agora, o convite também.
Quem aceitará essa missão?