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Reflexão à Equanimidade

Nada melhor que ter a mente aberta à equanimidade. Neste sentido, é preferível termos a mente como um pára-quedas, pois quanto mais aberto, melhor a descida e o pouso, embora a segurança do pouso também dependa de algumas técnicas para que o pára-quedista pise com segurança na aterrissagem. Porém, viver com a mente fechada à transformação ética é um equívoco e cristaliza as atividades mentais, impossibilitando a pessoa de ter mais lucidez – diga-se sem reservas! Vale ressaltar que a mente de vez em quando “mente”, portanto, não vale ter a mente aberta a pensamentos negativos nem a influências comportamentais desequilibradas...

Reflita: quando você ingere produtos de origem animal, usa vestimentas ou objetos que contenham couro animal, usa produtos testados em animais, tu tens consciência de que efeitos sua escolha tem sobre a vida dos animais? Refiro-me aos direitos deles. Direitos à liberdade. Por que aceitar facilmente certos costumes antiéticos sem questioná-los? Por que comer carne de frango, vaca ou porco enquanto inúmeras pessoas cuidam de gatos, cachorros e pássaros como animais domésticos? Se todos os animais sofrem, por que tanta indiferença? E não é só a questão do sofrimento que importa, porque mesmo que eles supostamente não sofressem, ainda assim os mesmos não nos pertencem. Para complementar o que estou dizendo, vou citar uma afirmação de Alice Walker, citada na frase do mês da Revista dos Vegetarianos (edição 9):

 

Os animais do mundo existem para seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens

(CLIVATI, 2007, p. 66).

 

Mediante tal raciocínio, por que não deveríamos substituir a alimentação de origem animal pela alimentação vegana, substituir as vestimentas e os objetos de couro animal por de couro vegetal, substituir os produtos testados em animais por produtos que passaram por testes substitutivos? O materialismo nos impõe um aglomerado de costumes antiéticos e várias pessoas os aceitam de uma maneira tão passiva. Os animais que uma pessoa supostamente civilizada não se atreveria a comer aqui no Brasil, como, por exemplo: cães e gatos, servem, quando mortos, para encher a pança de muitos chineses. Entretanto, os restos cadavéricos de vacas e bois, levando em consideração o mesmo raciocínio, servem também, quando mortos, para encher a barriga de muitos brasileiros. Será que isso é correto, já que qualquer animal é suscetível à dor e a outras sensibilidades intoleráveis? Assim como muitos indianos não concordam como vários brasileiros tratam as vacas e os bois, da mesma maneira, muitos brasileiros não concordam como vários chineses tratam os cães e os gatos. E quem tem a razão nisso tudo? Somente aqueles que tratam com “equanimidade” os animais humanos e os animais não-humanos. Será que pensar nessa questão é tão incômodo para não nos importarmos com isso e deixarmos esta reflexão pra lá? Ou não seria melhor deixarmos pra lá o comodismo de não refletir com agudeza crítica sobre esta questão?

Reconhecer os direitos humanos sem reconhecer os direitos animais é um condicionamento cristalizado pelos costumes antiéticos que a sociedade moderna nos impõe goela abaixo. É importante vivermos sem fraudes alimentícias, sem embustes de costumes ultrapassados e sem corrupção de testes laboratoriais. A equanimidade é uma qualidade nobre por excelência!

Charles de Freitas Lima é ex-monge da ISKCON, Professor de Educação Física e Pós-graduado em Psicomotricidade. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Bibliografia:

CLIVATI, M. Frase do mês. Revista dos Vegetarianos. São Paulo, edição 9, p. 66, Editora Europa, 2007.


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