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Refluxo

Há alguns meses recebi um e-mail de uma leitora solicitando que abordasse esse assunto.

 

Apesar de não existirem estudos que fizeram comparações sobre a incidência desse problema entre vegetarianos e não vegetarianos, por ser um problema relativamente comum mesmo entre vegetarianos, vale a pena conversarmos sobre ele.


O processo digestivo

Quando ingerimos um alimento, ele desce pelo esôfago até chegar no estômago. O estômago contém enzimas digestivas e uma acidez bastante pronunciada. Esse ácido não deve voltar para o esôfago, pois isso causa lesões (feridas) no esôfago.

Assim, para proteger o esôfago do ácido, no final dele há uma maior pressão da sua musculatura que, contraída, impede que o ácido gástrico volte para o esôfago. A essa região chamamos esfíncter inferior do esôfago.

O retorno do suco gástrico para o esôfago é chamado de refluxo gastroesofágico (do estômago - gastro - para o esôfago). O refluxo é considerado um dos problemas mais comuns do tubo digestivo e pode se manifestar com diversos sintomas.

Sintomas do refluxo

Os principais sintomas que a pessoa que tem refluxo apresenta são:

- Azia;

- Regurgitação ácida;

- Queimação na "boca do estômago" que pode irradiar até a região do pescoço. Chamamos essa sensação de queimação retroesternal, por se localizar "atrás" do osso tórax, que chamamos esterno. Essa localização nada mais é do que o local onde o esôfago fica.

Quem tem dor de estômago deve fazer exames?

Nem sempre. A indicação de realização de exames deve ser feita pelo médico.

De forma geral, pessoas com menos de 40 anos de idade que apresentam queimação e regurgitação menos de duas vezes por semana, sem as manifestações de alarme (que descrevo à frente) e com as manifestações há menos de 4 semanas podem ser submetidas a um teste terapêutico, que consiste no uso de medicações específicas e modificações comportamentais (descritas à frente).


As manifestações de alarme

As pessoas que apresentam manifestações de alarme são as principais candidatas para realização de exames mais específicos.

As manifestações de alarme são:

- dificuldade para engolir;
- dor para engolir;
- anemia (provocada por pequenos sangramentos no esôfago);
- hemorragia digestiva e emagrecimento;
- história familiar de câncer;
- náuseas e vômitos;
- sintomas de grande intensidade e/ou de ocorrência noturna.

As manifestações atípicas

A ausência de sintomas típicos não exclui o diagnóstico da doença, pois a doença do refluxo pode se manifestar de diversas formas:

- com dor torácica que pode lembrar a dor cardíaca. Isso ocorre pois a dor no esôfago pode ser confundida com a dor no coração;

- com sintomas pulmonares, pois o ácido do estômago pode voltar para o esôfago e penetrar nos pulmões. Os sintomas, nessas condições, são: asma, tosse crônica, tosse com escarro sanguinolento, bronquite e pneumonias de repetição;

- com sintomas em ouvido, nariz e garganta, pois o suco gástrico pode atingir essas regiões ocasionando: rouquidão, pigarro, dor de garanta, sinusite e dor de ouvido;

- com sintomas na boca, por contato do suco gástrico, ocasionando: desgaste do esmalte dentário, mau hálito e aftas.

Quando é refluxo?

Os sintomas descritos anteriormente podem ser confundidos com outros problemas. Assim, quando a pessoa apresenta os sintomas por pelo menos duas vezes por semana, há cerca de quatro a oito semanas, são consideradas possíveis portadoras de doença do refluxo gastroesofágico.

Como fazer o diagnóstico?

O seu médico deve avaliar a necessidade de exames específicos que, associados ou não aos sintomas descritos, estabelecerão o diagnóstico.

A endoscopia é bastante utilizada. A pHmetria é considerado o melhor exames para evidenciar a presença do refluxo gastroesofágico.

Outros exames, em situações clínicas mais específicas podem ser utilizados, como o raio X contrastado de esôfago, exame cintilográfico e manometria.

O refluxo pode complicar?

Sim, pode! Existe uma forte correlação entre o tempo de duração dos sintomas e o aumento do risco para o desenvolvimento de câncer de esôfago (adenocarcinoma do esôfago) e alterações da sua camada interna resultando no que chamamos esôfago de Barrett (considerada uma condição de risco para o desenvolvimento de câncer).

A esofagite (inflamação no esôfago) pode favorecer o sangramento no esôfago e o seu estreitamento (dificultando a passagem do alimento).

TRATAMENTO

O objetivo do tratamento clínico é aliviar os sintomas, cicatrizar as lesões, prevenir as recidivas e as complicações decorrentes do refluxo.

Utilizamos, concomitantemente, as medidas comportamentais e farmacológicas (medicamentosas) para o tratamento.

Medidas comportamentais

As principais medidas comportamentais preconizadas são:

1) Elevar a cabeceira da cama 15 cm. Pela gravidade, isso dificulta o retorno do alimento do estômago para o esôfago. Essa elevação deve ser feita nos pés da cama e não colocando travesseiros para ficar com o tronco mais elevado;

2) Tomar cuidado com o uso de medicações que podem piorar o refluxo (colinérgicos, teofilina, bloqueadores de canal de cálcio, alendronato...);

3) Não deitar nas duas horas seguintes às refeições, pois com o estômago cheio e na horizontal o seu conteúdo pode voltar para o esôfago mais facilmente;

4) Não ingerir refeições com grande volume de alimentos, pois com o estômago mais cheio, o retorno do seu conteúdo para o esôfago é mais fácil;

5) Comer em posição ereta, pois ao comer curvado, além de perdermos um pouco da noção do enchimento do estômago, favorecemos o aumento da pressão no abdômen favorecendo o refluxo;

6) Não utilizar roupas e acessórios que apertem a região abdominal, pois isso pode aumentar a pressão dentro do abdômen favorecendo o refluxo;

7) Fracione as refeições. Com isso você consegue comer menores volumes por refeição;

8) Mastigue bastante os alimentos. Alimentos liquidificados e com mais saliva misturada são menos agressivos às regiões machucadas. A saliva contém uma substância chamada Urogastrona (ou Fator de Crescimento Epidérmico) que favorece o processo de regeneração do trato gastrointestinal e maior proteção contra o ácido do estômago;

9) Não fumar. O cigarro é um dos maiores irritantes do estômago que existem;

10) Manter o peso adequado, pois a obesidade aumenta a pressão dentro do abdômen empurrando o estômago para cima, o que favorece o refluxo;

11) Reduzir ou preferencialmente não utilizar alimentos que reduzem a pressão do esfíncter inferior do esôfago (favorecendo o retorno do conteúdo gástrico): café, mate, chá preto, bebidas alcoólicas, menta, hortelã, chocolate e alimentos gordurosos;

12) Reduzir ou não utilizar alimentos que irritem os locais já com lesão do trato gastrointestinal: condimentos picantes, refrigerantes, suco de frutas ácidas, tomate e outros alimentos ácidos;

13) Evitar alimentos que tenham um esvaziamento gástrico mais lento: alimentos gordurosos, mal mastigados, muito salgados ou doces e chocolate.

14) Evite alimentos que contenham corantes, estabilizantes, aromatizantes... A sua ação sobre o organismo é, muitas vezes, incerta podendo ser agressivos para o estômago e regiões machucadas do esôfago.

15) Se a refeição não estiver muito salgada, evite beber líquidos durante a refeição;

16) Se a refeição estiver salgada, utilize um pouco de líquido junto ou após a refeição;

Medidas Farmacológicas

Utilizamos medicamentos para reduzir a produção de ácido do estômago, ou menos comumente, medicamentos que neutralizam o ácido produzido. O seu uso por 6 a 12 semanas é recomendado.
Medicamentos que aceleram o esvaziamento do estômago também podem ser utilizados.

Cirurgia

Está reservada a situações onde o tratamento clínico não surte o resultado almejado.

 

Fonte: www.alimentacaosemcarne.com.br

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