Por que a posse de certas capacidades ou relações não justifica o especismo?
Argumentos que justificam o especismo com base em certas capacidades (razão, linguagem, autonomia, senso de certo e errado, etc.) ou relações (afetivas, de solidariedade, políticas, de poder) enfrentam problemas significativos:
- Exclusão de muitos humanos: Muitos seres humanos (bebês, crianças pequenas, indivíduos com certas deficiências cognitivas ou doenças degenerativas) não possuem essas capacidades ou relações. Se a falta delas não justifica tratá-los pior ou desconsiderá-los, então tampouco pode justificar o tratamento de animais não humanos. De fato, a vulnerabilidade decorrente da falta dessas capacidades é frequentemente vista como uma razão para maior cuidado em humanos.
- Falta de explicação da relevância moral: Os argumentos não explicam por que essas capacidades ou relações são moralmente relevantes para determinar a consideração devida. A relevância é simplesmente assumida.
- Senciência como fator determinante: O que é relevante para a consideração moral é a capacidade de ser prejudicado ou beneficiado, ou seja, a senciência. As capacidades cognitivas ou relações sociais não determinam se um ser pode sofrer ou ter experiências positivas, nem a magnitude desses prejuízos ou benefícios.


Este volume, parte da Coleção Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado, foca-se na discussão do especismo, que é a discriminação injusta contra espécies não-humanas. O autor, Luciano Carlos Cunha, doutor em Ética e Filosofia Política, analisa criticamente diversas tentativas de justificar a menor consideração moral dada aos animais não-humanos em comparação com os humanos. A obra explora argumentos que variam desde a importância da espécie em si, passando por características metafísicas ou capacidades cognitivas, até apelos à tradição, naturalidade da prática, autointeresse e a própria natureza da ética, refutando-os e defendendo uma igual consideração para todos os seres sencientes. O objetivo é desconstruir as bases do antropocentrismo e do especismo, evidenciando as falhas lógicas e éticas por trás dessas justificativas.
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