Por que o apelo ao "potencial" de humanos para desenvolver certas capacidades não justifica o especismo?
A tentativa de justificar o especismo apelando ao "potencial" humano (ou seja, que todos os humanos, mesmo que não as possuam atualmente, têm o potencial para desenvolver certas capacidades cognitivas complexas ou relações sociais) apresenta problemas:
- Exclusão de humanos sem potencial: Existem humanos com condições congênitas incuráveis que os impedem de desenvolver essas capacidades. Segundo este argumento, seria correto tratá-los da mesma forma terrível que se tratam animais não humanos, o que é moralmente inaceitável para a maioria. A alegação de um possível "avanço científico ou milagre" para esses humanos é arbitrária se não aplicada igualmente aos animais não humanos.
- Falta de explicação da relevância: O argumento não explica por que a posse (real ou em potencial) dessas capacidades seria relevante para a consideração moral.
- Sofrimento como razão direta: As razões para não causar sofrimento a uma criança, por exemplo, não derivam do seu potencial futuro, mas do fato de o sofrimento ser intrinsecamente negativo. Se uma criança terminal que nunca desenvolverá essas capacidades ainda merece pleno respeito, então a falta de potencial em animais não humanos não justifica tratá-los com menor consideração.


Este volume, parte da Coleção Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado, foca-se na discussão do especismo, que é a discriminação injusta contra espécies não-humanas. O autor, Luciano Carlos Cunha, doutor em Ética e Filosofia Política, analisa criticamente diversas tentativas de justificar a menor consideração moral dada aos animais não-humanos em comparação com os humanos. A obra explora argumentos que variam desde a importância da espécie em si, passando por características metafísicas ou capacidades cognitivas, até apelos à tradição, naturalidade da prática, autointeresse e a própria natureza da ética, refutando-os e defendendo uma igual consideração para todos os seres sencientes. O objetivo é desconstruir as bases do antropocentrismo e do especismo, evidenciando as falhas lógicas e éticas por trás dessas justificativas.
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