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Por que a "Tese do Status Especial" (TS) é considerada injusta quando aplicada a humanos ou seres autônomos?

A "Tese do Status Especial" (TS) afirma que alguns indivíduos (tipicamente humanos, ou humanos com autonomia) possuem um status superior que os prioriza, mesmo que isso implique em maior prejuízo para outros seres. Essa tese é contestada por ser injusta e arbitrária, especialmente quando avaliada através do método do "véu da ignorância" proposto por John Rawls (e adaptado por Harsanyi).

O véu da ignorância nos pede para imaginar que somos agentes racionais e autointeressados que devem decidir os princípios morais e políticos de um mundo futuro, sem saber que características teremos ao nascer (raça, gênero, riqueza, saúde, talentos ou mesmo espécie).

Aplicando este método:

  1. Exclusão da espécie e capacidades: O pertencimento a uma espécie e a posse de capacidades cognitivas complexas são resultados da "loteria natural", ou seja, sorte. Um princípio de justiça imparcial deve desconsiderar essas vantagens ou desvantagens não merecidas. Portanto, por trás do véu da ignorância, não saberíamos a qual espécie pertenceríamos nem se teríamos autonomia.
  2. Rejeição do status superior por imparcialidade: Dada a possibilidade de nascer como um animal não humano ou como um humano sem autonomia (uma probabilidade gigantesca, considerando que há quintilhões de animais sencientes para cada bilhão de humanos), agentes racionais e autointeressados rejeitariam veementemente um "status superior" para humanos ou seres autônomos. Eles não correriam o risco de ser a maioria esmagadora de seres desprivilegiados.
  3. Fundamentação em autointeresse e equívoco: A defesa de um status privilegiado para humanos ou seres autônomos no mundo real é, portanto, vista como baseada no autointeresse (sabemos que somos do grupo privilegiado) e na crença equivocada de que não poderíamos ser desfavorecidos.
  4. Confusão entre agência moral e consideração moral: A objeção de que o véu da ignorância só se aplicaria a seres com senso de justiça (como pensava Rawls) confunde a capacidade de ser um agente moral (quem julga e age eticamente) com a capacidade de ser um paciente moral (quem merece consideração moral por poder sofrer). Um bebê com deficiência que recebe menos comida está sofrendo uma injustiça, mesmo sem ter senso de justiça. A senciência, e não a autonomia, é o critério para merecer consideração.

Conclui-se que a "Tese do Status Especial" é injusta e arbitrária, sendo uma forma de especismo mascarado, pois não resiste a uma avaliação imparcial.

 

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Fonte:  colecao-uma-jornada-pela-etica-animal-livro-1-discutindo-o-especismo-1.pdf
Este volume, parte da Coleção Uma Jornada pela Ética Animal: Do Básico ao Avançado, foca-se na discussão do especismo, que é a discriminação injusta contra espécies não-humanas. O autor, Luciano Carlos Cunha, doutor em Ética e Filosofia Política, analisa criticamente diversas tentativas de justificar a menor consideração moral dada aos animais não-humanos em comparação com os humanos. A obra explora argumentos que variam desde a importância da espécie em si, passando por características metafísicas ou capacidades cognitivas, até apelos à tradição, naturalidade da prática, autointeresse e a própria natureza da ética, refutando-os e defendendo uma igual consideração para todos os seres sencientes. O objetivo é desconstruir as bases do antropocentrismo e do especismo, evidenciando as falhas lógicas e éticas por trás dessas justificativas.
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