No que consiste o dano da morte e como se diferencia da visão epicurista?
A morte é considerada um dano não por ser uma experiência negativa em si, como o sofrimento, mas por impedir a continuação de experiências positivas que o indivíduo teria se permanecesse vivo. Essa perspectiva contrasta com a visão epicurista, que argumenta que a morte não é um dano porque, como o indivíduo deixa de existir quando ela chega, não há experiência negativa. Para Epicuro, se a morte não é sentida, não pode ser prejudicial, e, portanto, não haveria razão para temê-la ou para evitar morrer.
A visão de que a morte é um dano por privação sugere que a ausência de algo bom (experiências positivas) pode ser tão prejudicial quanto a presença de algo ruim (experiências negativas). Isso significa que, para determinar se é melhor viver ou morrer, deve-se considerar a proporção de experiências positivas e negativas que a vida futura traria. Assim, a morte pode ser um dano sob certas condições, mas não sempre, especialmente se a vida futura prometesse apenas sofrimento. Essa explicação também permite entender por que morrer mais cedo é pior do que morrer mais tarde, pois impede um maior número de experiências positivas.

Fonte: COLEÇÃO UMA JORNADA PELA ÉTICA ANIMAL DO BÁSICO AO AVANÇADO VOLUME 3
O texto, "Os Animais e o Dano da Morte," de Luciano Carlos Cunha, é o Volume III da coleção "Uma Jornada pela Ética Animal," que investiga a ética animal do básico ao avançado. A obra se aprofunda na questão do dano da morte para animais não humanos, examinando as condições sob as quais a morte é prejudicial e como sua magnitude deve ser avaliada. Cunha refuta a visão epicurista de que a morte nunca é um dano, argumentando que ela é prejudicial por impedir experiências positivas, e critica a ideia de que a complexidade cognitiva ou a capacidade de planejar o futuro são necessárias para que a morte seja um dano significativo. O livro também discute objeções à avaliação do dano da morte por meio de "Anos de Vida Ajustados pela Qualidade (AVAQs)" e desafia a noção de que animais são substituíveis ou que humanos são inerentemente mais prejudicados pela morte, propondo que a intensidade do dano deve ser considerada independentemente da espécie para uma ética mais imparcial.
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