Ácidos Graxos Naturais
Ácidos Graxos Naturais na Indústria Cosmética: Origens e Considerações Veganas
O que são Ácidos Graxos Naturais?
Ácidos graxos naturais referem-se a ácidos carboxílicos de cadeia longa obtidos de fontes biológicas (óleos e gorduras). Quimicamente, são compostos orgânicos monocarboxílicos com cerca de 4 a 22 átomos de carbono (geralmente número par), podendo ser saturados ou insaturados. Estes ácidos são provenientes de óleos e gorduras vegetais e animais – ou seja, são encontrados tanto em matérias-primas de origem vegetal (como óleos vegetais) quanto animal (gorduras animais). Na indústria cosmética, os ácidos graxos são amplamente utilizados como ingredientes em diversas funções, por exemplo: agentes espessantes/emulsionantes em cremes, emolientes condicionantes em loções, e tensoativos (surfactantes) de limpeza em sabonetes e xampus.
A designação “ácidos graxos naturais” normalmente indica que esses ácidos são obtidos de fontes naturais (biológicas), em contraste com versões puramente sintéticas. No contexto de rótulos ou formulações, o termo abrange misturas de ácidos graxos saturados e insaturados comuns, tais como ácido caprílico, ácido láurico, ácido mirístico, ácido oleico, ácido palmítico e ácido esteárico. Esses componentes aparecem em produtos como banhos de espuma, batons, sabonetes, detergentes, cosméticos em geral e até alimentos. Em suma, quando a indústria cosmética menciona utilizar “ácidos graxos naturais”, geralmente está se referindo a ingredientes derivados de óleos ou gorduras naturais (de plantas ou animais), em vez de moléculas produzidas unicamente por síntese química.
Possíveis Origens dos Ácidos Graxos Naturais
Os ácidos graxos naturais utilizados em cosméticos podem ter diferentes origens, incluindo fontes animais, vegetais, e eventualmente rotas sintéticas ou biotecnológicas. A seguir, detalhamos cada tipo de origem e exemplos relevantes:
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Origem Animal: Historicamente, muitas matérias-primas de ácidos graxos vieram de gorduras animais. Sebo bovino, banha de porco ou outras gorduras de abatedouros são fontes tradicionais de ácidos graxos para produção de sabões e cosméticos. Por exemplo, a gordura bovina (sebo) é rica em ácido esteárico, oleico, palmítico, linoleico etc., que podem ser extraídos e utilizados em produtos de higiene. Um ingrediente como “ácido de sebo” (INCI: Tallow Acid) indica uma mistura de ácidos graxos derivada do sebo bovino. Da mesma forma, o sebo saponificado em presença de soda cáustica resulta no “seboato de sódio” (INCI: Sodium Tallowate), presente em muitos sabonetes tradicionais. Esses exemplos deixam claro o vínculo com origem animal: de fato, muitos sabonetes são baseados em sebo de animais, contendo sodium tallowate e usando ácido esteárico como espessante proveniente dessas gorduras. Vale notar que o ácido esteárico originalmente foi obtido de gorduras animais, e ainda hoje pode ser derivado de sebo bovino, de ovelhas ou até de outros animais.
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Origem Vegetal: Atualmente, há uma forte tendência em utilizar fontes vegetais para obter ácidos graxos, tanto por questões de custo quanto por apelo sustentável/vegano. Óleos vegetais como os de coco, palmiste, palma, soja, mamona, karité, entre outros, são abundantes em ácidos graxos e servem de matéria-prima. Por exemplo, o ácido láurico e mirístico provêm em grande proporção do óleo de coco; já o ácido oleico é abundante em azeite de oliva e outros óleos vegetais; o ácido palmítico e esteárico estão presentes no óleo de palma e em manteigas vegetais (cacau, karité etc.). Assim, é possível produzir ácido esteárico de origem 100% vegetal, e muitas empresas cosméticas já optam por essa rota para tornar seus produtos “livres de exploração animal”. Inclusive, o rótulo de um ingrediente pode evidenciar a fonte vegetal quando usa termos específicos – por exemplo, “Coconut Acid” (ácido de coco) indica uma mistura de ácidos graxos extraídos do óleo de coco. Esse ácido de coco contém majoritariamente os ácidos graxos saturados do óleo (láurico, mirístico, palmítico, caprílico, caprico, etc.) e é utilizado como agente de limpeza em sabonetes e detergentes, sendo claramente de origem vegetal. Em muitos casos, um mesmo ácido graxo pode ser obtido tanto de fontes animais quanto vegetais – o ácido caprílico, por exemplo, é um ácido graxo presente no leite de vaca ou cabra (origem animal), mas pode ser obtido de fontes vegetais como óleo de palma ou coco. De modo geral, hoje existem alternativas vegetais para praticamente todos os ácidos graxos comuns, e a preferência da indústria por fontes vegetais tem aumentado, seja por vantagens de preço (óleos vegetais são produzidos em larga escala) ou para atender nichos de mercado (cosméticos naturais/orgânicos/veganos).
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Origem Sintética: Além das fontes naturais, é possível produzir ácidos graxos (ou derivados equivalentes) por via sintética, em laboratório ou indústria química. Embora a denominação “naturais” não seja aplicada a esses casos, vale mencionar que a química orgânica permite sintetizar ácidos graxos a partir de insumos petroquímicos ou por modificações de gorduras. Por exemplo, existe produção industrial de ácidos graxos sintéticos de cadeia larga, utilizados em setores diversos. No caso de ingredientes cosméticos específicos, algumas entradas de dicionários técnicos indicam origem “animal/sintético”, sugerindo que já há métodos de obter determinado ácido graxo sem usar diretamente matéria-prima animal. Um exemplo são os ácidos graxos isomerizados (como ácido isosteárico), obtidos por síntese a partir de fontes petroquímicas ou oleoquímicas – esses ácidos “artificiais” não ocorrem tal qual na natureza, mas quimicamente são semelhantes aos naturais e cumprem funções similares (são usados para melhorar estabilidade de formulações, por exemplo). Na prática, porém, a maioria dos ácidos graxos usados em cosméticos provém de fontes naturais renováveis (animais ou vegetais), devido à abundância e baixo custo destas. Assim, os “ácidos graxos naturais” mencionados em rótulos dificilmente seriam de procedência sintética – se o fabricante destaca o termo natural, tipicamente significa que o ingrediente veio de um óleo/gordura de origem biológica, e não de síntese puramente química.
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Outras Origens (Biotecnologia): Uma terceira via emergente é a produção de lipídeos por biotecnologia, como por meio de micro-organismos. Microalgas, leveduras e bactérias podem ser cultivadas para produzir óleos ricos em ácidos graxos (por exemplo, ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 derivados de algas). Esses ingredientes biotecnológicos, embora menos comuns na cosmética tradicional, representam fontes potenciais de ácidos graxos “naturais” que não envolvem nem animais nem plantas superiores. Do ponto de vista do consumidor vegano, ácidos graxos de microalgas ou fontes microbianas são bem-vindos, pois não advêm da exploração animal. Já existem no mercado suplementos e alguns cosméticos contendo óleo de algas (rico em DHA/EPA, por exemplo) e extratos lipídicos de fermentação, ilustrando essa categoria. Conforme a tecnologia avança, espera-se que mais ácidos graxos de origem biotecnológica sejam disponibilizados como alternativas sustentáveis e veganas às fontes convencionais.
Rotulagem e Ambiguidade de Origem nos Ingredientes
Como identificar ácidos graxos naturais nos rótulos? – Nas listas de ingredientes de cosméticos, que seguem a nomenclatura INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients), cada substância é declarada pelo seu nome padronizado, geralmente em inglês ou em latim. Isso significa que, em vez de aparecer genericamente “ácidos graxos naturais” no rótulo, o comum é vermos nomes específicos como Stearic Acid (ácido esteárico), Palmitic Acid (ácido palmítico), Oleic Acid (ácido oleico), Lauric Acid (ácido láurico), Glyceryl Stearate (estearato de glicerila), entre outros. O sistema INCI padroniza os nomes para facilitar a identificação precisa dos ingredientes internacionalmente. No entanto, essa nomenclatura indica a estrutura química, mas não a origem. Em outras palavras, saber que um produto contém “Stearic Acid” não revela se ele veio de gordura animal ou de óleo vegetal – a mesma designação é usada independentemente da fonte de obtenção.
Essa falta de especificidade pode gerar ambiguidade para o consumidor, especialmente o público vegano. Muitos ingredientes derivados de animais possuem equivalentes vegetais, mas o rótulo não diferencia. Por exemplo, o ácido esteárico presente em um creme hidratante pode ter sido extraído de sebo bovino ou de óleo de palmiste, e ambas as situações constarão apenas como Stearic Acid na lista de ingredientes. Só em casos em que o nome INCI em si identifica a fonte é que o consumidor tem clareza imediata – como já mencionado, Tallowate ou Tallow Acid no nome indicam origem bovina (sebo), enquanto Coconut Acid indica origem de coco (vegetal). Mas essas denominações “fonte + acid” são usadas para misturas complexas de ácidos graxos (tipicamente em sabões); já ácidos isolados (esteárico, oleico etc.) não carregam indicação de fonte no nome.
Na prática, a origem muitas vezes fica oculta ao leitor comum. Regulamentos cosméticos (como os da ANVISA no Brasil, FDA nos EUA e normas europeias) não exigem que o fabricante especifique entre parênteses “(origem vegetal)” ou “(origem animal)” – apenas que declare corretamente o nome do ingrediente. Assim, cabe ao consumidor buscar essa informação por outras vias. Uma análise publicada ressalta que termos genéricos como “fontes naturais” podem abarcar tanto origem animal quanto vegetal e, no setor de cosméticos, frequentemente a origem é animal (gordura, proteína, óleos de animais). Ou seja, a menos que a marca voluntariamente esclareça a procedência (como “ácido esteárico vegetal” em alguma comunicação) ou tenha certificações veganas, é difícil ter certeza apenas lendo a composição técnica.
Essa ambiguidade motivou até iniciativas de advocacy: grupos de defesa animal argumentam que os consumidores deveriam ser informados claramente quando um produto contém ingredientes de origem animal. Nos EUA, por exemplo, foi submetida em 2024 uma petição à FDA propondo a obrigatoriedade de um rótulo dizendo “contém ingredientes de origem animal” nas embalagens pertinentes. Entretanto, por enquanto não há exigência legal desse tipo. Portanto, para consumidores veganos, a mera presença de “ácidos graxos naturais” ou nomes químicos associados não garante nada – é preciso investigar além do rótulo.
Onde costuma aparecer a expressão “ácidos graxos naturais”? – Em listas de ingredientes de cosméticos (especialmente nacionais), essa expressão exata não é comum, já que como explicado usam-se nomes INCI específicos. Todavia, a frase pode aparecer em outras partes: na descrição do produto, em fichas técnicas de matéria-prima ou em guias para consumidores. Por exemplo, manuais e listas voltadas ao público vegano frequentemente traduzem “Fatty Acids” como “Ácidos Graxos Naturais” e alertam que podem ser compostos de sebo bovino. Uma ficha de referência publicada cita explicitamente "ácidos graxos naturais, produzidos a partir de sebo bovino" ao listar ingredientes de origem animal ocultos em alimentos e produtos – sinal de que essa terminologia é usada para englobar ácidos graxos extraídos de fontes biológicas. Em embalagens de sabões ou sabonetes, é possível ler algo como "sabão de ácidos graxos saponificados" ou identificar termos como Sodium Tallowate (sebo saponificado) versus Sodium Cocoate (óleo de coco saponificado). Assim, embora o rótulo não diga literalmente “ácidos graxos naturais”, o consumidor atento pode comparar ingredientes para inferir a origem. Um exemplo elucidativo: sabonetes tradicionais muitas vezes listam Sodium tallowate e Stearic Acid – indicando sebo bovino na base e ácido graxo possivelmente animal; já sabonetes vegetais substituem por Sodium palmate/cocoate (derivados de palma/coco) e podem usar ácido esteárico de fonte vegetal. Infelizmente, sem esse nível de conhecimento técnico, a identificação fica obscura para a maioria.
Em suma, há ambiguidade na rotulagem quanto à origem dos ácidos graxos. O termo “natural” por si só não esclarece se o natural veio de uma vaca ou de um coco. Conforme observado, “fontes naturais” pode significar origem animal ou vegetal, e no campo cosmético muitas vezes implica substâncias animais se não houver indicação em contrário. Essa realidade exige atenção extra dos veganos ao ler rótulos – muitas vezes recorrendo a listas especializadas, contato com o SAC das empresas, ou buscando produtos certificados.
Compatibilidade com o Veganismo e Dicas para Consumidores
Do ponto de vista dos princípios do veganismo, qualquer ingrediente de origem animal é incompatível. Portanto, ácidos graxos naturais extraídos de gorduras animais (sebo, banha, leite, etc.) não são veganos. Já aqueles derivados exclusivamente de plantas, ou sintetizados/biofabricados sem insumos animais, são compatíveis com produtos veganos. O grande desafio é distinguir qual é qual, dado que, como vimos, muitos ácidos graxos têm dupla possibilidade de origem.
Para um consumidor vegano que deseja evitar produtos de origem animal, as seguintes recomendações ajudam a avaliar a compatibilidade de produtos contendo ácidos graxos naturais:
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Verifique certificações e declarações da marca: A maneira mais confiável de saber se um cosmético é livre de ingredientes animais é procurar selos ou indicações como “Produto Vegano” na embalagem, ou certificações de entidades reconhecidas. Embora não sejam legalmente obrigatórios, muitos fabricantes já exibem essas garantias. Selos de vegano ou listas oficiais de produtos veganos da empresa indicam que todos os componentes, inclusive ácidos graxos, são de origem vegetal ou sintética. Alguns rótulos trazem frases como “100% origem vegetal” próximos à composição para destacar essa informação.
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Conheça os ingredientes críticos e suas alternativas: Nem todos os nomes técnicos precisam ser memorizados, mas vale saber quais ingredientes costumam ser de origem animal. Por exemplo, termos contendo “tallow” (sebo) ou “lard” (banha) certamente vêm de animais. Já ingredientes contendo “coco”, “palm” ou nomes latinos de plantas são indícios de origem vegetal. Desconfiar de componentes como Stearic Acid, Myristic Acid, Palmitic Acid, Oleic Acid se o produto não for explicitamente vegano – eles podem ser vegetais, mas também podem ter vindo do sebo. Nesse caso, o consumidor criterioso pode verificar no site do fabricante ou entrar em contato com o SAC perguntando se tais ingredientes são de origem vegetal. Muitas empresas respondem a esse tipo de questionamento, e algumas até disponibilizam glossários online indicando a fonte de cada insumo (por exemplo, há fabricantes que informam em seus sites que usam “ácido esteárico vegetal” nas fórmulas).
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Prefira marcas transparentes ou especializadas: Hoje existem diversas marcas de cosméticos naturais/veganos que explicitamente excluem derivados animais. Optar por essas marcas reduz o risco de ambiguidades. Elas costumam substituir ingredientes como lanolina, ácido esteárico animal, gelatina, etc., por alternativas vegetais ou sintéticas. Por exemplo, substituem-se estearatos de sebo por estearatos vegetais, cera de abelha por ceras vegetais, e assim por diante. Conforme um levantamento informativo, “alternativas vegetais: óleo de palma, coco...” estão disponíveis para virtualmente todos os usos de ácidos graxos naturais originalmente vindos de animais. Ou seja, um cosmético vegano bem formulado pode cumprir as mesmas funções sem nenhuma perda de performance, usando ácidos graxos de palma, coco, oliva, karité, soja, etc., no lugar daqueles de sebo ou leite.
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Fique atento a termos de marketing potencialmente enganosos: A palavra “natural” por si só não implica “vegetal”. Um produto anunciado como “feito com ingredientes naturais” pode muito bem conter gordura animal (que, afinal, também é um ingrediente “natural” no sentido de não ser sintético). Assim, para o público vegano, natural não basta – é preciso que seja natural e de fonte não animal. Infelizmente, órgãos reguladores como a ANVISA não têm uma definição regulamentada de “cosmético natural” nem exigem certificação para isso; essa rotulagem fica a critério do fabricante e/ou de certificadoras independentes. Portanto, mantenha um olhar crítico: busque termos específicos como “origem 100% vegetal” ou a listagem de ingredientes vegetais para ter mais certeza.
Em conclusão, ácidos graxos naturais na cosmética englobam tanto ingredientes que podem ser seguros para veganos (se derivados de plantas ou fontes não animais) quanto ingredientes tradicionalmente obtidos de animais. A compatibilidade com o veganismo depende inteiramente da fonte usada. Como a distinção raramente é evidente no rótulo, consumidores veganos devem adotar uma postura investigativa e informada – consultando listas de ingredientes de origem animal conhecidas, recorrendo a guias veganos confiáveis, e privilegiando marcas que compartilham abertamente a origem de suas matérias-primas. Quando bem informado, o consumidor pode “desvendar os rótulos” e escolher produtos alinhados com seus valores éticos sem cair em ambiguidades ou propaganda verde equívoca.
Exemplos de Ingredientes e Fontes (Animal vs. Vegetal)
Para ilustrar, segue uma lista de alguns ácidos graxos comuns em cosméticos, indicando suas possíveis fontes e implicações para veganos:
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Ácido Esteárico (Stearic Acid): Ácido graxo saturado de cadeia longa (C18). Usado como espessante e agente de estrutura em cremes, loções, sabonetes e velas. Origem animal: pode ser extraído de gordura animal (ex: sebo de boi, de carneiro; historicamente até de cães e gatos em indústrias de rendering). Origem vegetal: também encontrado em diversos óleos e manteigas vegetais (palma, palmiste, manteiga de karité, manteiga de cacau, óleo de coco, etc.). Muitas empresas produzem ácido esteárico a partir de palma/coco, viabilizando uma versão vegana do ingrediente. Sem informação adicional, Stearic Acid no rótulo é ambíguo – pode ser de qualquer fonte. Produtos veganos e marcas conscientes costumam esclarecer que usam ácido esteárico vegetal.
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Ácido Caprílico (Caprylic Acid) e Caprico: Ácidos graxos de cadeia média (C8 e C10, respectivamente). Usados em formulações como agentes emolientes leves e também presentes em triglicerídeos caprílicos/cápricos (MCT oil). Origem animal: ocorrem no leite de vacas e cabras (o nome “caprílico” deriva de Capra, cabra). Contudo, a obtenção industrial a partir de leite é incomum. Origem vegetal: óleos como o de coco e de palmiste contêm quantidades significativas desses ácidos, sendo as fontes comerciais preferidas. Assim, embora possam ser “naturais” de leite, praticamente todo ácido caprílico usado em cosméticos hoje vem de coco/palmiste, tornando-o tipicamente vegano – a menos que estivesse inserido como componente lácteo em algum produto específico.
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Ácido Oleico (Oleic Acid): Ácido graxo monoinsaturado (C18:1). Origem vegetal: extremamente comum nos óleos vegetais – compõe ~70% do azeite de oliva, alto teor em óleo de abacate, óleo de amêndoas, entre outros. Origem animal: também presente em gorduras animais (banha de porco tem cerca de 40% oleico; sebo bovino ~ t30%). Comercialmente, o ácido oleico isolado é geralmente obtido fracionando óleos vegetais (por exemplo, óleo de oliva). Pode ser considerado vegano quando derivado de plantas. Aparece em cosméticos como emoliente e agente condicionante. Sem indicação, Oleic Acid no rótulo provavelmente é vegetal (pois é mais fácil extrair de plantas), mas não há garantia explícita.
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Ácido Palmítico (Palmitic Acid): Ácido saturado (C16). Origem vegetal: dá nome ao óleo de palma, que é extremamente rico em palmítico (44% do óleo de palma é ácido palmítico). Também presente em óleo de coco (~8%) e outras gorduras vegetais. Origem animal: componente significativo de gorduras animais (sebo bovino ~25% palmítico, banha ~30%). Frequentemente, o ácido esteárico “comercial” inclui uma fração de ácido palmítico, pois ambos são obtidos juntos das gorduras. Pode ser considerado vegano se derivado do óleo de palma (apesar de questões ambientais do dendê, do ponto de vista estritamente vegano é de fonte vegetal). Novamente, Palmitic Acid isolado não permite saber a fonte sem informação extra – embora dado o nome e abundância no reino vegetal, é razoável supor origem vegetal em muitos casos atuais.
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Ácido de Sebo (Tallow Acid): Mistura de ácidos graxos resultante do processamento do sebo animal. É um nome INCI genérico para ácidos graxos de sebo bovino/ovino. Sempre de origem animal (a não ser que se trate de um análogo sintético idêntico, o que seria raro e ainda assim não tornaria o produto vegano pois a intenção original é sebo). Aparece em algumas formulações de sabões, velas e lubrificantes. Produtos veganos não usam ácido de sebo – substituem-no por misturas de ácidos graxos vegetais equivalentes (como Palm Acid ou Coconut Acid). Portanto, se um rótulo listar Tallow algo (Tallowate, Tallow Acid etc.), o consumidor vegano deve evitar, pois indica origem animal clara.
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Ácido de Coco (Coconut Acid): Mistura de ácidos graxos derivada do óleo de coco. Origem 100% vegetal. Usado principalmente em sabonetes e produtos de limpeza como agente espumante e de limpeza suave. Este nome deixa evidente a fonte (coco), sendo seguro para veganos. Assim, se em uma composição aparece Cocos Nucifera Acid ou Coconut Acid, significa que os ácidos graxos utilizados vieram de óleo de coco (ou palmiste, já que muitas vezes se combina coco/palmiste). Isso contrasta com o caso do Tallow Acid acima. Em cosméticos veganos, é comum a preferência por “ácido de coco” e “ácido graxo de palma” saponificados em vez de sebo saponificado.
(Vale lembrar que, além dos ácidos graxos em si, muitos derivados e compostos relacionados podem aparecer nos rótulos – por exemplo, estearatos, palmitatos, lauratos, oleatos (sais e ésteres desses ácidos). A lógica de origem permanece: estearato de glicerila, por exemplo, será vegano se o ácido esteárico utilizado for vegetal; já um “sodium tallowate” claramente não é vegano por vir do sebo. Assim, a análise deve se estender aos ingredientes derivados de ácidos graxos.)
Considerações Finais
A expressão “ácidos graxos naturais” em cosméticos abrange uma categoria ampla de ingredientes lipídicos fundamentais em muitas formulações. Do ponto de vista técnico, refere-se a ácidos graxos extraídos de matérias-primas naturais (animais ou vegetais) em oposição a substâncias puramente sintéticas. Contudo, do ponto de vista ético vegano, essa nomenclatura requer escrutínio: natural não significa isento de crueldade. Identificar a verdadeira origem desses ácidos graxos é crucial para consumidores que evitam produtos de origem animal. Conforme discutido, um mesmo ingrediente (como o ácido esteárico) pode tanto vir de um subproduto animal barato de frigorífico, quanto de uma plantação de palmeiras – e o rótulo, por si só, não diferencia.
Para alinhar o consumo cosmético aos princípios do veganismo, é recomendável priorizar produtos certificados veganos ou daqueles fornecedores transparentes quanto à origem de cada componente. Felizmente, as alternativas vegetais e sintéticas para ácidos graxos estão amplamente disponíveis e vêm sendo adotadas: já é possível encontrar de tudo, desde sabonetes a maquiagens, formulados apenas com ácidos graxos vegetais e livres de ingredientes animais. Esse movimento é impulsionado tanto pela demanda do público quanto por uma consciência maior da indústria sobre sustentabilidade e bem-estar animal.
Em última análise, a chave está na informação. Munido de conhecimento sobre ingredientes e suas possíveis fontes, o consumidor pode tomar decisões compatíveis com o veganismo sem abrir mão de qualidade ou eficácia nos cosméticos. O termo “ácidos graxos naturais” deixa de ser enigmático quando entendemos seu contexto: ele abrange substâncias que podem derivar de animais ou plantas. Cabe a nós, consumidores conscientes, investigar e escolher aquelas opções em que natural seja sinônimo de compaixão – ou seja, de origem vegetal ou livre de exploração animal. Assim, podemos desfrutar dos benefícios que esses ácidos graxos trazem aos produtos de beleza (hidratação, maciez, limpeza eficaz) com a tranquilidade de estarmos respeitando os valores veganos em nossas rotinas de cuidados pessoais.
Referências:
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Mundo Educação – Ácidos graxos: definição química e fontes (origem vegetal e animal).
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Mapa Veg – Guia de ingredientes: entrada “Ácidos graxos” indicando possível origem animal ou vegetal e usos cosméticos.
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Semantics Scholar (Rotulagem veg/vegetariana) – exemplo de menção a “ácidos graxos naturais, produzidos a partir de sebo bovino”.
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Meu Cabelo Natural – Ingredientes proibidos em cosméticos No/Low Poo Veganos: alerta de que “Ácidos Graxos Naturais” podem incluir sebo bovino.
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Vegazeta – Muitos sabonetes são baseados em sebo de animais: discute uso de sebo e banha em sabões e cita ácido esteárico de origem animal vs. vegetal.
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Cosmile Europe – Ficha do ingrediente Tallow Acid (ácido de sebo): origem bovina e funções cosméticas.
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Lesielle (Diccionario cosmético) – explicação do Sodium Tallowate: sebo saponificado obtido de gordura de boi/ovelha, rico em ácidos oleico, esteárico etc..
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ANDA/Jor.br – Ingredientes de origem vegetal e animal: esclarece que “fontes naturais” podem ser animais ou vegetais, frequentemente animais nos cosméticos.
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Ecostore – descrição do Coconut Acid: mistura de ácidos graxos extraídos do óleo de coco (origem 100% vegetal) e seus usos em sabonetes.
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Anvisa – Perguntas frequentes sobre Nomenclatura INCI: adoção de nomenclatura internacional para ingredientes cosméticos (lista em rótulos).
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Petição FDA 2024 (Trecho) – proposta de rotulagem obrigatória indicando ingredientes de origem animal, destacando a atual falta de indicação clara.
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