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                      Dennis 
                        Zagha Bluwol
                         | 
                     
                     
                        | 
                      Eng. 
                        Alfredo Akira Ohnuma Jr.    | 
                     
                    
                        | 
                      Ecoterra 
                         | 
                     
                    
                        | 
                      Paula
                            Schuwenck  
                         | 
                     
                   
                
                 | 
            
               O 
                  Conceito de Natureza 
                  como forma de compreender a realidade 
                  Autor: Dennis Zagha Bluwol,
                  Geógrafo  
                  dennis@guiavegano.com 
                   
                 
                  Poucas vezes se vê em nossa sociedade o pensamento
                    de que muito do que não caminha do melhor modo possível
                    para a maioria das pessoas pode advir de questões
                    de cunho conceitual, de discussões teóricas
                    que, em sua dimensão prática, ajudam a moldar
                    o mundo como é. 
                     
                    Um exemplo de grande importância é o que nossa
                    atual sociedade reconhece como natureza. Vejamos então
                    algumas questões para se iniciar a reflexão
                    sobre este tema. 
                     
                    Cada pessoa, dependendo de como vive, possui com a terra,
                    e, portanto, com a Terra, certo tipo de relação
                    e identificação, como nos mostra Carvalho: “Por
                    exemplo, se para um empresário de mineração
                    natureza é fonte de matérias-primas de onde
                    extrai a mercadoria com a qual obterá lucros, já para
                    o camponês, natureza é meio de sobrevivência,
                    ou, de outro lado, se para o especulador de terras natureza é investimento
                    imobiliário, já para os índios é um
                    espaço de vida que não se vende nem se compra.”. 
                    Vemos então que o que chamamos de “natureza” é algo
                    socialmente, historicamente e geograficamente constituído.
                    Assim, existe uma visão do que seja natureza que se
                    tornou a mais usada nas sociedades ocidentais atuais: a de
                    que “natureza” é algo externo ao homem.  
                     
                    Um grande passo na direção de uma mudança
                    nas relações sociais (e, portanto, ambientais)
                    existentes é a percepção de que o homem é também
                    natureza, assim como o que ele produz. A natureza não
                    pode ser entendida simplesmente como o lugar onde os homens
                    moram e tiram as coisas para seu sustento, visão esta
                    muito disseminada como senso-comum, e que é um motivo
                    central no avanço das degradações ambientais
                    postas. 
                     
                    Humanidade e natureza são na verdade uma coisa só.
                    Podemos compreender então que quando um homem explora
                    outro homem, está explorando uma parte da natureza.
                    Provavelmente, estará também explorando o resto
                    dela, ou seja, tudo é explorado. Hoje isso se dá em
                    nome da acumulação capitalista, como veremos
                    em breve. 
                     
                    Portanto, essa compartimentação da natureza,
                    não só entre homem-natureza, mas entre todos
                    os seus elementos, que são vistos separadamente, como
                    matérias-primas cuja finalidade é servir à produção
                    de bens, é algo desenvolvido através da história
                    e das visões de mundo de cada sociedade. Gonçalves
                    nos mostra que “Toda sociedade, toda cultura cria,
                    inventa, institui uma determinada idéia do que seja
                    natureza.”. 
                     
                    Sobre isso, Carvalho diz: “a natureza sequer teria
                    sido reconhecida enquanto alteridade...distinta da dos homens,
                    se as relações sociais não tivessem
                    conduzido historicamente a esta separação entre
                    o “mundo natural” e o “mundo social”. 
                     
                    A visão de que o resto da natureza é inferior
                    aos humanos e que é nosso direito (e mesmo nosso dever,
                    em alguns casos) usá-la como quisermos pode ser facilmente
                    e constantemente encontrada em tradições muito
                    presentes até os dias atuais, como a tradição
                    grega, principalmente de linha aristotélica e a tradição
                    judaico-cristã, tanto no Velho, como no Novo Testamento.
                    Essas duas tradições acabaram se misturando
                    e seus ecos se fazem fortemente presente em todas as sociedades
                    ocidentais. Porém, a visão compartimentada
                    de mundo, como colocada acima, foi claramente posta como
                    corrente de pensamento a partir de Descartes e seus seguidores,
                    justificando assim, uma certa visão de mundo que viria
                    a ser dominante em praticamente todo o planeta, principalmente
                    no ocidente, sendo seguida ainda hoje, por muitos, como a
                    visão verdadeira de mundo. 
                    Em seu livro Discurso Sobre
                    o Método, Descartes chega a dizer que aprendendo sobre
                    a natureza e sua força “...poderíamos
                    empregá-los da mesma maneira em todos os usos para
                    os quais são próprios e assim nos tornar como
                    que senhores e possuidores da natureza”. 
                     
                    A filosofia cartesiana enquanto modo de se compreender o
                    mundo baseado em uma visão mecanicista da natureza
                    foi altamente adequada, tempos depois, para o crescimento
                    da burguesia mercantil, quando tendo sido a natureza dessacralizada,
                    ou seja, tendo sido tirada a visão sagrada de mundo
                    colocada pela Igreja Católica na Idade Média,
                    foi possível passar a explorar a natureza de um modo
                    muito mais agressivo, sem culpas ou preocupações
                    de cunho metafísico, pois uma moralidade baseada no
                    temor a um deus que poderia se enervar com certos tipos de
                    agressão à sua criação não
                    mais era um grande problema, ao menos para a emergente burguesia.
                    Podia-se, então, compartimentar a natureza, esquartejá-la,
                    pois era algo morto, não mais habitado por deuses. 
                     
                    O século XIX reforçou a visão cartesiana
                    de mundo, pois foi o momento do nascimento das disciplinas
                    científicas como conhecemos hoje. Com a idéia
                    de que “natural” e “social” são
                    instâncias diametralmente diferentes da realidade,
                    são criadas as ciências ditas naturais e as
                    ciências ditas sociais, que aparentemente, assim como
                    postas para a sociedade pelos acadêmicos devotos desta
                    falsa divisão, são ciências que atuam
                    em campos totalmente diferentes, e deste modo, a idéia
                    de natureza como algo compartimentado e separado da humanidade
                    foi altamente reforçada. Assim, disseminado como senso-comum,
                    o conceito parece algo estático, indiscutível.
                    A simples idéia de que o que “todos” chamam
                    de “natureza” pode ser outra coisa que não
                    aquela que “todos” chamam aparentemente desde
                    sempre, parece ridícula e sem interesse para muitos. 
                     
                    Muito se diz hoje, principalmente por movimentos ambientalistas,
                    que o homem está destruindo a natureza.  
                    Porém,
                    não se diz qual homem está destruindo a natureza,
                    nem o que se está chamando de natureza. Com certeza
                    não é o índio nem o camponês clássico
                    (não ligado ao sistema capitalista) que estão
                    destruindo a terra onde vivem e retiram o que é necessário
                    para suas sobrevivências. Quem destrói o seu
                    meio ambiente é um certo homem sob uma certa cultura,
                    que gera um certo conceito de natureza, que na prática é a
                    própria relação do homem com o resto
                    da natureza. No mundo ocidental moderno essa relação
                    pode ser entendida como o próprio modo de produção
                    capitalista. 
                     
                    Este modo de produção tende a separar cada
                    vez mais o homem dos locais onde se poderia retirar os elementos
                    básicos para sua sobrevivência, principalmente
                    no que se refere à sua alimentação.
                    Deste modo, estes homens não terão outra escolha
                    a não ser estarem subordinados ao capital, pois não
                    tendo como retirar diretamente da terra o necessário
                    para o seu sustento, faz-se necessário comprar os
                    alimentos, roupas e tudo mais o que for necessário
                    no mercado. Para se comprar necessita-se de dinheiro. Para
                    se ter dinheiro necessita-se de emprego. Com gente necessitando
                    de emprego para comer, o burguês pode explorá-los.
                    Com gente sendo explorada, produzem-se mercadorias que são
                    postas no mercado para que essas mesmas pessoas, impossibilitadas
                    de ter acesso direto a estes produtos, possam obtê-los
                    através de sua compra. Com isso gera-se um ciclo de
                    acumulação de capital.  
                     
                  Portanto, a questão central nas discussões sobre
                  impactos causados ao meio-ambiente não pode ficar simplesmente
                  no consagrado “o homem é mal e destrói
                  a natureza”. Há de se aprofundar esta discussão.
                  O fato é que o modo de produção a nós
                  imposto, o chamado Capitalismo, necessita imprescindivelmente,
                  para seu funcionamento, da exploração da natureza,
                  sendo natureza não só árvores, animais
                  não humanos, solos, águas, etc., mas também
                  os homens e suas sociedades. Tudo é explorado em nome
                  da produção de mais-valia como meio de acumular
                  capital. 
                    
                                        Índice 
                        O
                      Conceito de Natureza como forma de compreender a realidade 
                         Sobre
                       os Movimentos de Proteção do Meio-Ambiente  
                        Sobre
                      a “Libertação Animal” e o Veganismo 
                         Conclusões
                  propositivas  
                 |