  
                   
                                
                 
                
                    
                        | 
                      Dennis 
                        Zagha Bluwol
                         | 
                     
                     
                        | 
                      Eng. 
                        Alfredo Akira Ohnuma Jr.    | 
                     
                    
                        | 
                      Ecoterra 
                         | 
                     
                    
                        | 
                      Paula
                            Schuwenck  
                         | 
                     
                   
                
                 | 
            
               Sobre
               a “Libertação Animal”  
               e o Veganismo 
                  Autor: Dennis Zagha Bluwol,
                  Geógrafo  
                  dennis@guiavegano.com 
                   
                 
                  Colocadas estas primeiras reflexões, posso prosseguir
                    no sentido da discussão das questões sobre
                    o modo como os animais são encarados em nosso mundo. 
                     
                    Algumas reflexões muito bem feitas já foram
                    realizadas sobre este tema, destacando-se a essencial obra
                    de Peter Singer “Libertação Animal”.
                    Como reflexão no campo da ética este livro
                    nos apresenta argumentos suficientes para se ir contra qualquer
                    tipo de exploração contra animais, dada a sensibilidade
                    (capacidade de sofrer) destes seres, dados os impactos ao
                    meio-ambiente resultantes da indústria da carne, aos
                    fatores ligados à questão da fome no mundo,
                    entre outros pontos de análise. O objetivo aqui não é repetir
                    o que já foi escrito neste ou em outros vários
                    textos importantíssimos, mas colocar algumas das discussões
                    do que hoje é conhecido como movimento de libertação
                    animal dentro da proposta deste artigo, numa tentativa de
                    aprofundar a discussão em certos sentidos e apontar
                    para possíveis resoluções para estas
                    problemáticas. 
                     
                    Novamente coloco a questão do conceito de natureza
                    para abordar esta questão. Animais são parte
                    na natureza. Todos os animais. Por exemplo, o ser humano
                    e as relações que possui com o resto do mundo.
                    O fato de existir conflitos entre os animais nos mostra que
                    um conceito de natureza que a vê como algo bucólico,
                    paradisíaco e distante é algo irreal. A grande
                    questão não é apontar ou propagar uma
                    idéia fictícia de que natureza é sinônimo
                    de paz total. O conflito é parte da natureza. Não
                    existe mundo sem conflito. A questão, portanto, é que
                    animais não humanos podem ter conflitos entre si,
                    mas só o animal humano é capaz de explorar
                    premeditadamente, intensivamente e imoralmente outros animais,
                    o que faz com que essa exploração seja muito
                    pior do que a feita por parasitas de outras espécies
                    sem capacidade de discernimento, abstração
                    e reflexão. 
                     
                    Em linhas gerais, a relação que o ser humano
                    atual possui com outras espécies animais pode ser
                    definida em uma palavra: especismo. Ou seja, há um
                    preconceito colocado em nossa sociedade que diz que outras
                    espécies animais são menos dignas de respeito
                    e bons tratos do que nossa espécie. É o mesmo
                    discurso do racismo, do sexismo, ou de outros preconceitos
                    de caráter excludente de uma parte dos seres por razões
                    não explicáveis ou não defensáveis
                    moralmente. 
                     
                    Assim, animais não humanos podem ser engaiolados,
                    enjaulados, acorrentados, treinados, debicados, isolados,
                    paralisados, testados, pendurados...e, principalmente, assassinados.
                    Mortos por um motivo mesquinho e não mais justificável
                    no mundo atual: para que seu cadáver seja devorado.
                    Não é mais possível justificar essa
                    barbárie, pois hoje sabemos que nutricionalmente o
                    consumo de carne, leite e ovos não apresenta nenhum
                    diferencial no que se refere aos nutrientes necessários
                    ao ser humano em relação ao que se pode obter
                    através de fontes vegetais, a não ser aspectos
                    negativos, como o excesso de gorduras. Ambientalmente a indústria
                    da carne é repulsiva, por usar e poluir uma quantidade
                    gigantesca de água, por destruir áreas gigantescas
                    de florestas para a criação de pastos ou de
                    grãos para a alimentação do gado, ou
                    por destruir a camada de ozônio através do gás
                    metano liberado pelos animais concentrados, que chega a ser
                    30 vezes mais destruidor do que o gás carbônico
                    liberado por automóveis. 
                     
É uma opção alimentar infeliz e injustificável.
                    Como esta discussão se encaixa no eixo central deste
                    artigo? 
                     
                    Para que essa repulsiva indústria exista nos moldes
                    que existe hoje, não podemos enxergar-nos como parte
                    desta mesma natureza que é presa, torturada e abatida
                    nas fazendas-fábricas e seus matadouros. Não
                    podemos nos sentir parte desta situação assustadora.
                    Aí, mais uma vez se encaixa a proposta do conceito
                    do que é a natureza posto para nós como uma
                    verdade indiscutível, como analisado no início
                    deste artigo. O ser humano não se vê como um
                    animal, pois se considera os animais como aqueles seres inferiores
                    e sem consciência que estão aqui para nos servir.
                    Até bem pouco tempo atrás se mudássemos
                    a palavra “animais” por “negros” na última
                    sentença, ela seria lida com a maior tranqüilidade,
                    sem causar espanto em boa parte da população
                    não negra. 
                     
                    Novamente voltamos à questão: toda a natureza é explorada
                    do modo como é hoje por um certo objetivo: a acumulação
                    de capital, que é o objetivo do capitalismo. 
                     
                    O que é uma vaca para um burguês? É uma
                    máquina onde se coloca grãos e cereais baratos
                    e abundantes (que poderiam alimentar um enorme número
                    de pessoas a baixos custos) e se retira, ao final do processo
                    (que é cada vez menor dado ao uso de hormônios
                    e antibióticos), carne com um valor comercial bem
                    maior do que o dos grãos e cereais, que será vendida
                    para uma parcela da população mundial que possui
                    dinheiro para isto e está disposta a trocá-lo
                    por este pequeno e injustificável prazer degustativo
                    momentâneo. 
                     
                    A vaca, a galinha, os porcos, enfim, todos os animais são
                    apenas matéria-prima para indústrias altamente
                    lucrativas para seus donos. Donos estes que não se
                    importam nem o mínimo com o sofrimento destes animais,
                    com as horríveis condições de vida a
                    que são submetidos (leia “Libertação
                    Animal”), com os impactos ambientais calamitosos provocados
                    por esta indústria, com o número dezenas de
                    vezes maior de pessoas que poderiam ser muito bem alimentadas
                    com as fontes vegetais de nutrientes se não as déssemos
                    para o gado, com a grande área de floresta que seria
                    poupada do desmatamento para a criação de pastos
                    e grãos, com a imensa quantidade de água que é desperdiçada
                    ou poluída com dejetos do gado, etc. 
                     
                    Aliás, é bom colocar que é claro que
                    a problemática da fome no mundo pode ser observada
                    sob o prisma da concentração de renda e da
                    concentração fundiária existente em
                    vários locais do mundo, inclusive, de forma violenta,
                    no Brasil. É impossível desconsiderar isto.
                    Porém, é bom ressaltar que a questão
                    não é só esta. Suponha que um dia estas
                    concentrações terminem e todos possam ter acesso
                    ao que quiserem, pelo menos para se alimentar, a mais básica
                    das necessidades. Se todos, considerando a população
                    mundial atual que cresce vertiginosamente, desejarem pratos à base
                    de carne, leite e ovos, de acordo com pesquisas recentes,
                    precisaríamos de pelo menos quatro planetas como a
                    Terra para criar todos esses animais. E este número
                    varia para mais, se considerarmos outros luxos de classes
                    mais abastadas e consumidoras de produtos industrializados
                    em excesso. Ou seja, mesmo que se quisesse, seria impossível
                    alimentar toda a população do mundo com carne,
                    ovos ou leite. Não há condições
                    pelos próprios limites do planeta. Portanto, é totalmente
                    contraditório se defender uma posição
                    contra o modo de produção exploratório
                    hoje existente e continuar incentivando o consumo de animais.
                    Não é possível existir uma sociedade
                    mais justa e igualitária no mundo se não se
                    mudar o mais essencial dos atos, que deveria ser praticado
                    por todos algumas vezes ao dia: se alimentar. 
                     
                    Temos então o Capitalismo, com seu conceito alienante
                    de natureza, explorando a tudo e a todos em nome da acumulação
                    de capital. A exploração de animais não
                    humanos é um destes tipos de exploração.
                    Como qualquer tipo de exploração, principalmente
                    de seres sensíveis, é injustificável
                    e imoral, assim como a exploração do ser humano
                    transformado em força de trabalho nas mãos
                    destes mesmos carrascos. 
                     
                    Libertar os animais desta terrível situação
                    só pode ocorrer simultaneamente à libertação
                    do homem desta mesma situação exploratória,
                    assim como a libertação de todo o planeta.
                    Uma das mudanças essenciais para se chegar a isto é alterarmos
                    o que consideramos ser nossa natureza e nos vermos novamente
                    integrados ao resto do mundo, agindo em prol do bem comum
                    e da melhoria da qualidade de vida de todos. 
                     
                    A burguesia, com o auxílio de uma de suas mais execráveis
                    armas, o marketing, embute nas pessoas cada vez mais necessidades
                    superficiais que se tornam centrais na vida de um número
                    altíssimo de pessoas, mesmo naqueles que não
                    podem pagar por elas, mas que não por isso não
                    possuirão o desejo de um dia possuir algo daquilo
                    que o protagonista acéfalo da novela adquiriu, ou
                    do que o comercial que associa mulheres semi-nuas e juventude
                    desmiolada ao sucesso e bem estar nada sutilmente lhe ordena
                    comprar. Tais necessidades fazem a produção
                    de mercadorias crescer vertiginosamente e continuamente,
                    a acumulação de capital ser cada vez maior
                    e, portanto, a exploração da natureza alcançar
                    patamares cada vez mais insustentáveis: mais exploração
                    de matéria-prima, de trabalhadores ou de animais usados
                    como ingredientes ou como cobaias em inúmeros e sofridos
                    testes em seus organismos a cada novo ingrediente ou fórmula
                    desenvolvida. Cada novo produto lançado é uma
                    nova facada contra nós mesmos. É um atentado
                    contra a natureza.  
                     
                    Ai das indústrias se as pessoas tivessem o discernimento
                    de que elas são também natureza e de que não
                    podem ser vistas como matéria-prima. Sim, as pessoas
                    são vistas no mesmo nível de importância
                    que um pedaço de bauxita pelos burgueses. Apenas têm
                    nomes diferentes no processo exploratório: um é matéria-prima,
                    o outro é força-de-trabalho. A única
                    diferença é que este último precisa
                    comer, e portanto precisa de seu ínfimo salário,
                    não que isso seja um grande problema, já que
                    o salário é uma pequenina parte valor do que
                    essa força-de-trabalho cria com aquela matéria-prima.
                    O resto é lucro. E se há lucro, é com
                    a natureza que o burguês vai se preocupar? Que se explore
                    mineral, vegetal, animal não humano ou animal humano. É assim
                    que o modo de produção que estamos inclusos
                    opera. 
                     
                    Se quisermos caminhar na direção de um movimento
                    de “libertação animal” que possua
                    alguma chance de sucesso, não podemos deixar estas
                    questões de lado. Libertar os animais de sua condição
                    de vida atual sem pensar em libertar também os humanos
                    e todo o resto da natureza das reais forças por trás
                    das explorações, é um trabalho fadado
                    ao fracasso. Não podemos querer um capitalismo vegano,
                    como parece ser o caso em muitos discursos. Capitalismo e
                    veganismo, como tentei mostrar durante este texto, ainda
                    que com outras palavras, são práticas contraditórias.
                    Não podemos deixar que o capitalismo se aproprie do
                    vegetarianismo como se este fosse apenas um nicho de mercado.
                    Não somos um nicho de mercado. Devemos ser uma opção
                    real de luta contra qualquer exploração, no
                    caminho de um futuro mais justo, igualitário e, para
                  todos os seres, prazeroso 
                    
                   
                       
                       
                      Índice 
                        O
                      Conceito de Natureza como forma de compreender a realidade 
                         Sobre
                       os Movimentos de Proteção do Meio-Ambiente  
    Sobre
  a “Libertação Animal” e o Veganismo 
                         Conclusões
                       propositivas  
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